Autor: Pedro Fagundes de Borba
Alemanha é, por definição, o berço do protestantismo. No país de Lutero se começaram os questionamentos sobre a validade da Igreja Católica e sua doutrina. Outros, em outros países, surgiram. Mas esteve bastante associado com a Alemanha e especialmente Lutero o surgimento do Protestantismo. O que se tornou uma marca cultural no país germânico. Mas, mesmo lá, o país nunca se converteu inteiramente as doutrinas protestantes. Antes disso, o país ficou em cisão, com regiões de maioria católica e outras de maioria protestante.
Mesmo o berço destas vertentes não conseguiu tornar sua população inteiramente adepta a elas, as quais estavam ainda firmes em seu catolicismo. Dessa forma se tornou e seguiu a cultura e religiosidade alemã, com várias cisões e questões presentes. Uma delas é o fato do país não ter sido unificado da forma como conhecemos até o século XIX. Era ainda o Sacro Império Romano Germânico. Era o primeiro estado alemão. Habitado por uma série de povos germânicos e outros povos.
A partir do século XIX, entretanto, passam a surgir várias desuniões e problemas internos, fazendo com que vários dos povos ali dentro passem a se desentender. Após diversos problemas, golpes, ações e medidas internas, os alemães fazem uma nova unificação, criando o Império Alemão. Cuja principal figura era o chanceler Otto Von Bismarck. Que organizou e unificou o país, dando outra forma. Entre outras coisas, o governo de Bismarck ficou marcado por ser o primeiro do mundo a fornecer direitos trabalhistas. Mas também teve outro aspecto, relacionado com a identidade alemã. Como o país fora berço do protestantismo, e Bismarck era protestante, se associou muito a cultura e identidade alemã com a religião protestante, a qual seria a mais forte e legítima da Alemanha.
Neste contexto, começam a haver disputas entre Bismarck e os católicos alemães, com o primeiro querendo prevalecer o protestantismo sobre o catolicismo. Dominando regiões de maioria católica, vendo ali um espaço que deveria ser protestante. Com isso, se fez um processo para tentar diminuir católicos. Tal processo foi chamado de Kulturkampf, que significa luta pela cultura. Origina-se da união de kultur (cultura) e kampf (luta). Contra ele, atuou o Papa Leão XIII e o bispo católico alemão Emmanuel Von Ketteler. Ambos foram atuaram defendendo católicos e suas crenças. Dessa maneira, se seguiu por um tempo, havendo disputas entre o governo alemão e a Igreja Católica.
Ao final, o processo se acalmou. Bismarck desistiu da ideia, mantendo a unidade alemã. Acabou se voltando mais contra socialistas depois da Kulturkampf. Ketteler, que ficou muito marcado como o Bispo dos Operários, seguiu formulando temas sobre a questão social e o cristianismo. Também influenciando muito o Papa Leão XIII na elaboração da Rerum Novarum, documento católico a versar sobre os problemas sociais. E Bismarck permaneceu liderando o país, sendo até hoje um dos grandes nomes da liderança alemã.
Espiritualmente falando, tal processo histórico demonstra bem uma disputa espiritual e cultural colocada à realidade e dando rumos. Pois se estava criando um espaço, tentando delimitar como seria. Os espíritos ali presentes punham-se como vertentes, dando força a ideias ruins, mas que se desfizeram, protegendo os católicos. Um local espiritual de grandes espíritos presentes e envolvidos. Mas que a Kulturkampf conseguiu ser dissolvida. Mostra bem disputas espirituais, em seus reflexos políticos e sociais também. E o berço do protestantismo teve uma disputa cultural, que acabou fazendo não existência. E Ketteler e Leão XIII conseguiram organizar bases sociais, garantindo aos espíritos encarnados melhores condições e possibilidades. Um fato e momento histórico que ainda muita reflete como andam os espíritos do mundo.