Autor: Pedro Fagundes de Borba
Como estilo artístico que surge como uma oposição ao romantismo, o realismo tem muita de suas bases em cima de uma observação mais atenta e arguta da realidade, em oposição a alguns vícios românticos. Sendo o romantismo a estética burguesa por definição, a que mais reúne valores e ideias típicos de tal classe, teve sua principal fonte nos desdobramentos da Revolução Francesa e nas mudanças políticas operadas a partir dali, que formaram o capitalismo. Assim reunia uma forte ideia de mudança social e de melhoras em relação ao antigo regime e ao absolutismo, movimento encabeçado pelas classes burguesas. Na arte, isto ficou manifesto a partir de uma estética e de uma reunião de valores e ideias expressos no romantismo. Que, prezando a ideia de livre criação artística, valorizava muito o sentimento e a grandiosidade, exacerbando-os até seus limites.
Essa era a base artística romântica, que perdurou durante as primeiras décadas do século XIX, tendo como nomes importantes Walter Scott, Victor Hugo, Johann Wolfgang Von Goethe, Mary Shelley, irmãs Bronte, Lord Byron, Chateaubriand, Aleksander Pushkin e outros nomes. Tais sentimentos nem sempre eram felizes ou positivos, muitas vezes eram fortemente o oposto disto. Mas era uma questão da exacerbação sentimental, de uma descrição de histórias, fenômenos e ideias sempre desta forma, provocando um afastamento da realidade.
Já no auge do romantismo havia alguns autores já mais realistas, os quais já falavam de dramas reais em formas mais próximas da realidade. Mas isso se fortaleceria a partir da década de 1840 e tomaria uma forma base em 1857, com o lançamento de Madame Bovary, por Gustave Flaubert. Antes dele Balzac e Stendhal já haviam feito obras mais próximas ao realismo, falando de problemas. Também naquele momento os sentimentos de otimismo em relação às revoluções burguesas tinham caído, por se ver que a igualdade jurídica e os empreendimentos capitalistas não conseguiam criar a prometida sociedade justa e boa. Somados ao impacto literário, a certo contragosto de Flaubert, o realismo ganhou forma literária e começou a se espalhar mais.
Desta segunda metade do século XIX até o começo do XX, tal estética e forma teria vários frutos e autores. A oposição ao romantismo se dava muito num quadro de desmontar os ideais românticos normalmente através da falência de alguma ideia defendida pelo romantismo. Fosse à falência do casamento, como em Madame Bovary, ou a falência da sociedade, pela exploração por ela feita aos cidadãos, como nas obras de Balzac e Zola ou ainda pelas hipocrisias religiosas, como nas obras de Eça de Queiroz. Quando também às vezes apenas viam uma visão risível e ridícula do humano, como no Brás Cubas de Machado de Assis. Estes autores faziam leituras realistas da sociedade, ainda que muitos pontos e ideias suas estivessem ainda atrelados ao romantismo, sobretudo a construção de histórias e de situações literárias. Para fazer oposição e ironizar tais ideais, mas ainda havia uma ligação entre elas.
A oposição do realismo se construiu exatamente como uma oposição, opondo os valores e ideias românticas com a realidade. Através da observação de consequências e ocorridas da aplicação de ideias do romantismo, se chegaram a problemas que foram retratados pelos realistas. Sociais, matrimoniais, religiosos, familiares, econômicos e de diversas outras naturezas. O realismo como estética conseguiu se colocar através dos problemas românticos na realidade, embora a cultura e as ideias continuassem, e ainda sejam bastante românticas. Pois o problema não eram os ideais, mas como isto ocorreu na realidade. Como fator histórico, o romantismo se consolidou e tem ainda uma perenidade. Se for morrer com o tempo ou será base por muito mais, é difícil delimitar. Talvez apenas com profundas mudanças sociais e de mentalidade. Mas ainda encanta e mexe com as pessoas.