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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

A diluição do Bolsonarismo

12/11/2023 - Várzea Paulista - SP

      Como uma ideologia um tanto quanto em transformação, a tendência do Bolsonarismo é a de afastar cada vez mais da figura de Jair Bolsonaro. Tanto pelas mudanças nos sentimentos e na cultura política recente brasileira, quanto pela constante e cada vez maior percepção de que Bolsonaro é um asno incompetente. O que não significa que a ideologia Bolsonarista esteja propriamente morrendo, mas está em metamorfose.

     Talvez voltando a ser o que era antes do Bolsonarismo, mas com adicionais novos. Até o Bolsonarismo, tendo iniciado ainda durante o período FHC e se acentuado nos governos Lula e Dilma, a principal oposição, a dicotomia política se centrava em PT e PSDB. Ou seja, uma esquerda moderada contra uma social democracia, uma direita moderada. Tal direita era muito alimentada e crescida pelo antipetismo, presente desde a fundação do PT e que, em termos mais amplos pode ser entendido como anti programas sociais e intervenções para melhorias nas estruturas sociais brasileiras. Carregava já várias ideias e proximidades com o que viria depois, mas ainda não era norma, não era o mais forte.

     A partir de 2014, com a derrota nas urnas de Aécio, também insufladas pelos sentimentos surgidos nos protestos no ano anterior, em junho de 2013, a direita passou a se radicalizar mais. Neste aspecto, vinha também devido a uma maior crise econômica que começava a surgir e ao enfraquecimento do capitalismo em nível mundial. O qual já não conseguia mais dar alguns suprimentos e certa qualidade de vida, estas em queda livre dentro de tal sistema. Ao passo que, para os mais ricos, também já não conseguia render tanto, já que o consumo diminuía o que faz com que diversas áreas do setor fossem apertadas para seguir rendendo o mesmo tanto a eles.  

     Para conseguir tal feito, associada com o sentimento, raiva e frustração criada na piora das condições de vida, a direita, em sua radicalização, conseguiu canalizar o sentimento citado para sua causa, criando um sentimento de ser contra “tudo que está aí”. Tal sentimento, sempre usado como elemento para gerar uma insatisfação difusa, mas extremamente poderosa, que criou o caldo para o Bolsonarismo. O qual se materializou na figura de Jair Bolsonaro, sendo por isso assim batizado. Um deputado baixo clero, já bastante antigo na câmara, constantemente eleito deputado por viúvas da ditadura. Mas que, em si, não era realmente perigoso ou competente, tendo apresentado nenhum grande projeto em todos seus mandatos de deputado.

    Com todo este caldo político, apostando fortemente no antipetismo e no antiesquerdismo com força, Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. A diluição do Bolsonarismo começou já quase que imediatamente, com uma série de figuras políticas, especialmente os auto intitulados liberais, rompendo com ele, os quais tinham surfado o Bolsonarismo para se elegerem. Mas o declínio mesmo do Bolsonarismo veio com a pandemia de Covid-19, que escancarou a incompetência e despreparo de Bolsonaro para questões políticas, ainda mais num momento tão grave de crise de saúde. Seu negacionismo da doença, associado com a insistência em subestimá-la mostrou para a população o que ele pensa e como se comporta, provando que não é bom.

      Isso não significou a morte do Bolsonarismo, como ficou visível na eleição de 2022 onde perdeu por uma margem pequena, mas significou um processo de metamorfose que vem vindo desde a pandemia. Muito por este ainda ficar muito vinculado ao antipetismo, sua força motriz mais forte, sempre a usava, e usa como maneira de se manter vivo, de angariar adeptos. O Bolsonarismo original ainda mostrou sua última força com os pedidos de golpe de estado em frente a quartéis, no final de 2022, que culminaram na frustrada tentativa de golpe em 07 de janeiro de 2023.

    Desde então, até por medo da justiça, o Bolsonarismo tem se acalmado e se tornado outras coisas. Até por sua essência não conseguir, em momentos melhores, tantos adeptos, a tendência é que mude mais. Ainda não foi tão longe por não ter conseguido um substituto para Bolsonaro, que emplaque com a força que este acabou tendo. A tendência é que volte a ser o antipetismo dos governos Lula e Dilma, porém agora talvez mais violento. Para conseguir novamente forças precisará de fortes crises políticas e econômicas, a qual ainda não possui perspectiva direta, devido ao lento processo de crescimento deste novo governo Lula.   

 
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