Autor: Pedro Fagundes de Borba
Com seu grande poder e profundidade, por possuir fortemente a maior capacidade de mexer no mais profundamente humano, a literatura se mostrou um fértil campo para denúncia e crítica social. Através dela, se consegue expor e mesmo personalizar os problemas e sofrimentos pelos quais passam povos e grupos sociais. Muitas vezes expondo mesmo as dores e contradições mais densas, mais reais e concretas existentes socialmente. Assim elevam e demonstram tais problemas em sua essência.
Ao longo da literatura brasileira tal tendência apareceu diversas vezes, muitas vezes seguindo tendências literárias estrangeiras, mas as colocando na realidade e características do Brasil. Talvez o ponto mais alto deste estilo literário no Brasil tenha sido o romance de 30. Embora a primeira grande manifestação do estilo tenha sido o realismo do século XIX, com autores como Machado de Assis, Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha, os realistas da década de 1930 levaram a um novo patamar, trazendo novas características. Muitos tinham bastante inspiração no romancista soviético Maksim Gorki e no dramaturgo alemão Bertolt Brecht, ambos importantes autores socialistas falando sobre os problemas sociais de então.
No Brasil, tal escrita falava especialmente sobre os problemas sociais nordestinos, local que foi o pólo deste estilo no Brasil, juntamente com o Rio Grande do Sul. Por ser um estilo essencialmente do nordeste, fala das características e explorações presentes na região, especialmente engenhos de açúcar e da seca. Principalmente no segundo, se falam de problemas do clima nordestino, mas também dos latifúndios e das desigualdades enormes presentes. O gérmen, o romance que inaugura tal estilo é o romance do paraibano José Américo de Almeida “A bagaceira”, de 1928. Que fala dos problemas e conflitos em um engenho de açúcar. Tanto sociais quanto familiares.
Desde estilo vieram outros autores bebendo em tais fontes: o baiano Jorge Amado, o também paraibano José Lins do Rego, a cearense Rachel de Queiroz e o alagoano Graciliano Ramos. A maior parte deles falando sobre problemas ligados aos cenários citados. No caso do Rio Grande do Sul temos: Erico Veríssimo, que escrevia sobre a vida urbana de Porto Alegre com leves pincelada sociais; Dyonélio Machado também escrevendo sobre POA, mas já falava bem mais profundamente e de forma mais aguda sobre os problemas sociais; e Cyro Martins falando sobre as mudanças, desilusões e perdas dos peões gauchescos da Campanha gaúcha.
Duas formas e focos narrativos surgiram neste período: a forma de falar do local, do cenário e das condições destes, tendo personagens, mas mais focados nos coletivos. Outros tinham um estilo mais psíquico, focando em figuras sofrendo com estes problemas e expondo a dor e seus pensamentos. Do primeiro seguiram Erico Veríssimo, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Jorge Amado. Do segundo vieram Dyonélio Machado, Graciliano Ramos e Cyro Martins. Os últimos também com forte inspiração em Fiodor Dostoievski. Eram duas maneiras de expor os problemas, na maneira como estruturavam a realidade e criavam desigualdades e também de mostrar como isto afetava as pessoas e o que elas se tornavam.
Sem dúvida uma das maiores expressões narrativas do Brasil, foi ali que modernizou e expôs de maneira mais densa e aguda que os realistas do século XIX, várias das contradições e problemas nacionais. Tal ação conseguiu dar esta expressão as coisas presentes aqui colocadas em vários níveis. Novas tendências têm aparecido deste então para problemas sociais, como Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Tabajara Ruas e Itamar Vieira Júnior, ainda trazendo estas questões. Muitos bebendo dos romances daquela época e de outros espaços também. Por serem coisas ainda não resolvidas, continuam inspirando a escrita e a sensibilidade literária. A literatura sente o que ainda não foi resolvido.