Autor: Pedro Fagundes de Borba
Mesmo tendo produzido diversos autores aclamados e fantásticos, poucos escritores da América Latina são tão unanimemente adorados quanto Juan Rulfo e sua obra prima, Pedro Páramo. O qual também é um dos mais calados escritores deste subcontinente. Apenas dois livros publicados, ambos em níveis inacreditavelmente bons. Que são o já citado Pedro Páramo e a coletânea de contos “Chão em Chamas”. Se neste já trazia uma crueza e uma aridez notável em sua escrita e retratos de situações diversas no interior mexicano, em Pedro Páramo conseguiu elevar tudo para um novo patamar literário.
Contando a história de Juan Preciado em sua volta para sua cidade natal Comala, muitos anos após sua mãe, Dolores Preciado, ter fugido, começa a desenrolar visões e personagens que mostram como era a cidade e várias histórias sobre seu pai, Pedro Páramo. O qual era o grande coronel, o homem mais poderoso da região. O qual influenciou, e prejudicou a vida dos cidadãos de Comala, com seu jeito cruel e a maneira opressiva com a qual regia. Acompanham-se as ações dele, dos personagens que com ele cruzam e, a partir de seu jeito e características são por ele influenciados. Como Eduviges Diada, Padre Renteria, Miguel Paramo, Damiana Cisneros, Fulgor Sedano e outros. Ao longo da narrativa Juan descobre não ser o único filho de Pedro, mas um dos vários que este tivera. A maioria deles ilegítimos, ele, filho da “paixão” de Pedro e Dolores seria o mais legítimo, mas teriam vários outros.
Aqui neste momento Juan Rulfo acertou em cheio, e por isso tornou-se tão consagrado e amado por outros escritores da América Latina, e do mundo também. Por ter acertado um ponto nevrálgico da questão social, que outros autores não conseguiram atingir com tamanha precisão. A qual é referente, especificamente a questão dos filhos de Pedro Páramo. Que a grande maioria deles é. Neste sentido, ainda que seja um ambiente de tremenda violência, injustiça e exploração, a ligação é muito mais complexa e difícil do que ser quer admitir. Porque sendo filhos deste Pedro Páramo estão a ele e o ambiente por ele criado muito mais interligado, gerando um nível em que mesmo eles são frutos daquele meio. De uma parte, talvez, mais privilegiada, mas ainda estão inseridos naquele meio e é uma consequência, uma possibilidade a partir dele.
Se outros escritores também conseguiam apresentar problemas sociais vigentes, e as estruturas que geram tais problemas, ainda não eram tão nevrálgicas quanto Rulfo em colocar um personagem naquele cenário que possuísse uma ligação que demonstrasse tais entrelaçamentos e a organização tão presente. O que mostra que tudo faz parte deste contexto social, sendo todos filhos dele. Literalmente através de Pedro Páramo e metaforicamente, se criando e crescendo nele. Por isso o nível do trágico e do pesado aumenta, mostrando todo este cenário.
Enquanto continua sendo um dos maiores livros do século XX, Pedro Páramo se firmará cada vez mais como um dos maiores romances sociais já escritos. Não apenas pela maneira como conseguiu abordar o tema, literariezando tantos de seus aspectos quanto também pela forma como conseguiu, trazendo mesclas do fantástico junto. Poucos autores viram as questões sociais em um nível tão infra quanto Rulfo. A marca deixada fará muitos problemas serem vistos, em suas dores e agouras mais densa e difícies.