Autor: Pedro Fagundes de Borba
Como prática individual, a caridade é uma das atitudes mais apreciadas em nossas sociedades. Poucas outras recebem elogios tão diretos e tão marcantes quanto ela. Em si, porque delimitaria uma nobre atitude individual, um aprimoramento humano em sua capacidade de ceder algo que tem para melhorar quem não tem. Assim se teria dois resultados essenciais: melhora na vida do outro e um fortalecimento do certo e do melhor naquele que pratica a caridade. Ainda que, para ser verdadeira, deva ser sem interesses segundos, garante um aprimoramento deste, uma capacidade do doador enxergar além, ver melhor o mundo e combater diversos egoísmos seus.
Porém, ao mesmo tempo, a caridade enquanto prática é apenas uma gaze, uma insuficiente ação frente problemas sociais mais amplos, os quais não podem ser resolvidos por ações caridosas. Podem ser levemente abrandados pelas ações caridosas, mas não solucionados. Muito porque a caridade é, especialmente, a distribuição de algo já produzido. E a distribuição do já produzido em si não consegue suprir as necessidades nem criar uma rede que as supra. Somente pela maneira como é produzida, a forma de se produzir sendo mais adequada é que a sociedade se torna sistematicamente mais justa. Com isto se consegue fazer com que a riqueza produzida chegue a mais pessoas, enfraquecendo a pobreza.
Então, se a caridade possui um caráter pessoal bastante forte, o de fazer com que o indivíduo veja e sinta mais coisas, ao mesmo tempo também carrega consigo. Mas dentro do contexto e espaço que vivemos se mostra insuficiente. Se a máxima espírita de que “Fora da caridade não há salvação” é verdadeira, por falar de uma questão que promove a melhoria e a força dos espíritos, não consegue salvar as sociedades e suas questões, em suas contradições. Se ajudar a combater espiritualmente diversos problemas, socialmente é apenas uma medida paliativa. Então é importante, mas os problemas sociais precisam de ações ainda mais transformadoras.