Autor: Pedro Fagundes de Borba
Quantos aspectos há na vida? Grosseiramente, costuma-se ver os chamados naturais e os sobrenaturais. Os primeiros são considerados reais por todos. Os segundos, por alguns. Ambos existem, mas em quais maneiras? Seria o dito sobrenatural algo além da vida? E até onde constitui algo fantástico ou banal? É parte da vida, ainda que se manifeste apenas nas abstrações? Os nomeados naturais são mais interessantes, mais relevantes e fantásticos? As perguntas só aumentarão, precisando de respostas individuais para alguma resolução!
Em uma Argentina de aspectos fantásticos concretos, se passa “O Aleph”, conto-título do livro homônimo de Jorge Luis Borges. Tomando este cenário real tornado fantástisco, inicia-se, em forma literária, situações filosoficamente válidas para este pensamento, através de descrição de experiência, de um fato vivido pelo personagem protagonista, relevante para sua vida. Sua elaboração formal, enquanto criação literária, não explicita, não enfatiza, não foca o caráter filosófico, sendo, principalmente, uma narrativa, mas capaz de gerar este tipo de ideia.
Seu personagem principal era grande amigo de Beatriz Vitterbo, recém falecida na história. A maneira como percebe e entende esta personagem é de importância fundamental para a compreensão da ideia. Após a perda da amiga, passa a perceber algumas mudanças, compreendendo que o universo estava se afastando dela, e que ele não. Não deixa de passar nenhum trinta de Abril, aniversário de Beatriz, em sua casa, sempre revendo o que representava a velha amiga, uma vez que ela não existe mais. Encontra sempre o pai da falecida, bem como seu irmão, Carlos Argentino Daneri.
Em 1941, aceita beber um conhaque com Carlos, no trinta de Abril. A partir de então, surge uma relação entre os dois, baseada em ideias de Daneri sobre o homem moderno, sobre as quais estava já escrevendo poema. Apresenta estrofes para o protagonista. Não sendo obra de valor literário, o personagem não cria relações com a criação do irmão da falecida amiga. Carlos Argentino, no entanto, não desiste. O convida para outras ocasiões. Em uma, o chama para tomar leite em um bar. Até que, um dia, o importuna por telefone, falando que a casa aonde passou a infância, local que alude à Beatriz, vai ser demolida, local essencial para a conclusão do poema por causa do Aleph. Termina afirmando haver, no porão da casa, um Aleph, querendo que o protagonista veja também.
Estava no porão, conhecido por Carlos desde quando criança. O Aleph seria um lugar onde se estariam todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos, sem se confundirem. Ao ir até o local aonde está o Aleph, o protagonista passa por experiências de caráter fantástico, sem de fato senti-lás tanto. Após a demolição do imóvel, passa a pensar a natureza do Aleph. Finalmente, o percebe estar esquecendo e falseando, bem como está fazendo com Beatriz Vitterbo.
O conto não apenas expõe um elemento fantástico como parte do mundo, como também o torna parte comparável a uma pessoa comum, extraordinária para o protagonista. Ambos fazem parte de sua vida. Percebendo ambos, o segundo apenas por causa do irmão dela, autor de um poema de qualidade seriamente questionável, sua vida existe, os tendo como parte, e o que lhe importa era Beatriz Vitterbo. Este aspecto da vida lhe é maior, mais importante. Logo, o que existe na vida, e quais aspectos realmente compõem o que enxergamos, valorizamos e reconhecemos?