Autor: Pedro Fagundes de Borba
O tema é bastante recorrente em termos de política, sendo um fato muito usado para discussão e apresentação de fatos. A Argentina sendo um dos grandes países da América do Sul, sua situação e acontecimentos chamam atenção e influencia questões em outros países e cidadãos sul americanos. Pois ali refletem aspectos que estão presentes em diversos outros lugares da região. O Brasil também é muito influente neste mesmo contexto, até mais que a Argentina. Pois sendo o maior e mais forte país da região, só perdendo pros EUA na América inteira, sua realidade também se torna relevante e estudada para saber o que pode ou não ocorrer, os rumos por vir.
Também por isso, o Brasil é o mais forte e com a economia mais robusta da América Latina, lhe garantindo forças e capacidades que outros não têm. Neste mesmo aspecto, depois de Brasil e México, Argentina vem como o terceiro mais forte, mas já numa situação bastante diferente dos dois primeiros. Pois possui uma instabilidade e problemas econômicos que não há nestes, ou, ao menos, não com a mesma intensidade. Tratam-se essencialmente de problemas na moeda, muito desvalorizada e nos consequentes problemas econômicos internos. Que suscitam problemas de inflação, diminuição do poder de compra em diversos períodos recentes, intercalados com permanentes empréstimos internacionais ao país.
Tal fato é atribuído, por pessoas diferentes, há fatores diversos. Um dos mais comuns, ou mais repetidos no Brasil, é a associação entre tal situação e a esquerda argentina. Que por a Argentina ter tido alguns governantes de esquerda em sua história, suas políticas e ações seriam a causa desta crise. Por vezes, substitui-se a culpa a esquerda com a culpa ao peronismo. Neste segundo caso, se complica e muito o debate, pois o legado de Juan Perón é muito amplo, captando boa parte da cultura política argentina e influenciando políticos dos dois espectros. Costuma também associar a esta narrativa uma riqueza argentina perdida, que esquerdistas e peronistas teriam destruído um país riquíssimo.
Aqui, muitos detalhes são desconsiderados. Em relação à riqueza, o país nunca foi de fato realmente rico ou com poder de potência. Houve sim ciclos econômicos positivos no país, momentos de prosperidade, mas sem uma baste muito forte. O que também ocorreu em diversos períodos do Brasil. O último período de mais enriquecimento e prosperidade no Brasil foi durante o boom das commodities. Teve, entre outros, o ciclo da borracha, no final do século XIX e início do XX. No caso argentino, na mesma época da borracha brasileira, o país descobriu jazidas de ouro na Terra do Fogo, provocando uma corrida. E também um temporário enriquecimento nacional. Que terminou. Nos dois casos, os países não tiveram organização social ou condição de fazer um fator de fortalecimento econômico e de tornar mais complexa a organização nacional. Foram apenas ciclos.
Sendo dois países que tiveram ciclos de enriquecimento, nunca conseguiram firmar fortemente uma condição de país rico. Assim, são países não exatamente pobres, pois têm fortes algumas áreas, mas possuem uma malha mais fraca. Com isso, a ideia de uma Argentina rica que ficara pobre se desmente, já que o país nunca chegou a tanto. Em termos de administração política e governamental, maioria das questões e problemas estão muito relacionados com as políticas de direita, abundantes na história argentina desde sua redemocratização.
A mais notável, e que acentuou muito a crise vivida pelo país, foi à gestão de Carlos Menem, nos anos 1990. Tendo permitido uma alta e acentuada dolarização de sua economia, destruiu o valor e o peso de sua moeda, enfraquecendo o poder econômico argentino. O que fez com que a moeda valesse cada vez menos. E, por consequência, o poder de compra e as forças nacionais foram esvaziados, levando a problemas. Desde então, nunca se recuperaram.
Ao mesmo tempo, se a moeda se enfraqueceu muito, a estrutura nacional e as classes e condições sociais se alteraram muito menos. O país ainda possui pobre, classe média e rica, preservando esta estrutura de vida, ainda que um câmbio fraco. O país não aumentou de pobreza vertiginosamente, mantendo sua estrutura e sua organização nacional anterior. Variou de governos com mais forte viés social, como o casal Kirchner, até governos neoliberais e que causaram enfraquecimento, como Macri. Este último um tanto semelhante a Menem.
Muitos destes assumiram para li o legado peronista, tanto o casal Kirchner quanto Menem. O que o torna um legado complexo e influente a Argentina quase como um todo. Políticas de direita e esquerda são feitas em seu nome. Tornando necessário olhar o político e o que ele fez. O país possui um problema em sua moeda, o qual terá de enfrentar. Talvez apenas com uma nova. Seja como for, é um exemplo do que ocorre quando se dolariza uma economia, levando a falência e destruição da moeda nacional.