Autor: Pedro Fagundes de Borba
Relacionamentos entre homens mais novos e mulheres mais velhas existem já há bastante tempo, embora não sejam tão frequentes. O tema vai e volta regularmente em jornais, espaços diversos e no pensamento popular. E é, em si, um tipo de relacionamento tecnicamente dentro do padrão mais comum, heterossexual. Porém é o único tipo de relacionamento hetero que enfrenta preconceitos. Não tanto quanto relacionamentos homossexuais, mas sofre também. Em si, ele delimita um tipo de atração não tão comentada, porém real de homens por mulheres mais velhas. O qual é pouco falado, normalmente vendo como mais normais atrações de mulheres por homens mais velhos.
Através dos tempos, passando por diversos momentos e ideias, além de culturas, foi também um tema tratado em diversas obras. Houve também casais assim ao longo do tempo. Como foi da maestrina brasileira Chiquinha Gonzaga e o português João Batista Fernandes Lage, ela 36 anos mais velha. Na literatura, tal tema tomou diferentes formas e esteve relacionado com outros fatores. Desde autores que mostravam tais relações como frutos de interesse, outras vezes como um tipo de amor e de afeição cobertos com uma maior ternura, uma proximidade especial.
Do primeiro tipo, as histórias que mais podem ser lembradas são livros como “O vermelho e o negro” de Stendhal onde Julien Sorel se aproxima da Senhora de Renal, esposa do prefeito, para conseguir entrar mais no meio, também como maneira de crescer socialmente. Também, numa linha parecida, pode ser incluso o romance de Balzac “Ilusões Perdidas” no qual Lucien de Rubempré se aproxima da Senhora de Bargeton para também estar incluído em mais altos círculos e iniciar uma carreira literária. Da mesma época, escrito por Flaubert, temos o livro “Educação sentimental” onde o personagem Fredéric Moreau ao viver em paris se apaixona pela Senhora Arnoux, também mais velha. Nutrindo por ela uma forte ternura e desejo, que se desenrolam ao longo do livro. Estes três livros, escritos no estilo realista e em épocas próximas variam entre o interesse e o desejo.
Há também histórias mais voltadas diretamente para questões de descobertas, de percepções. Ou de apenas casos de ciúme e jogos. Como “Primeiro amor” de Ivan Turguêniev. No qual o adolescente Vladimir se apaixona por Zinaída, de 21 anos. O desenrolar mostrará dores e traições que serão fortes. No Brasil teve o romance Bom Crioulo, que trata da relação homossexual entre o escravo alforriado Amaro e Aleixo, com 30 e 15 anos, respectivamente. Depois Aleixo terá caso com Dona Carolina, de 38 anos. Numa perspectiva feminina, tivemos os livros Chéri, de Colette, romance erótico entre Fredéric e a prostituta Léa. A atração, amor e desejo colocados pela autora dão um tom novo para a obra. Nesta linha, mas de maneira autobiográfica, há o livro “O jovem” de Annie Ernaux. Onde ela narra o caso e os sentimentos, situações e questões em volta.
Mas o autor que melhor explorou tal temática foi Machado de Assis, produzindo uma obra fortemente sensível para com estes sentimentos. Explorados através de Inácio em “Uns braços” e Nogueira em “Missa do galo”. Nas duas histórias, a atração e fascinação dos dois jovens por mulheres mais velhas se dão através de uma atração forte, sensual e até doce. A de Nogueira não se consolida, a de Inácio em sonho. Nelas a essência fica muito bem mostrada, o que se está buscando e sente. Mais do que outros autores, Machado mostrou como se dá o sentimento, da parte deles e delas, Severina no “Uns braços” e Conceição em “Missa do galo”, sentindo medos, desejos e angústias. Mostrando bem os sentimentos destas relações. Assim mostra o sentimento e o bom presente nestas relações, onde se veem tais afetos.