Autor: Pedro Fagundes de Borba
Desde quando colônia portuguesa, o Brasil escreve essencialmente baseado em estilos estrangeiros ou que não surgem aqui. Isto ocorre em parte porque as literaturas se inspiram e baseiam umas em outras, trazendo aspectos mútuos. Mesmo nos livros dos chamados países desenvolvidos há influências fortes de outros lugares. Muitas vezes, veladamente, de lugares fora do chamado primeiro mundo. O que indica já estas confluências e jogos literários entre as partes, que veem coisas umas nas outras.
No caso brasileiro, e em outros lugares, porém, é visto e enxergado certo aprisionamento, certa imitação da literatura e outras artes do dito primeiro mundo. Mais do que entre eles, parece haver certa tendência a querer imitar seus estilos, formas e jeitos. Criar como que uma versão brasileira deles. Há uma verdade, historicamente falando, na literatura brasileira a se seguir por este caminho. Pois os estilos literários sempre foram diretamente nos produzidos na Europa e, em menor escala, nos Estados Unidos. Os estilos estavam sempre inspirados nos moldes e ideias europeias, como arcadismo, romantismo, realismo, modernismo entre outros. Lia estes estilos e os reproduzia em cima da realidade e características brasileiras.
A partir do modernismo isto ocorreu menos, e também ocorreu de uma forma mais distinta. Nele já havia um estilo e um jeito brasileiro impresso no escrever, que dialogava e pegava coisas de fora jogando com o Brasil e também pensando de uma forma mais própria. Consciente ou inconscientemente já havia mais forte a antropofagia modernista, que permitia melhor um sentimento do que é Brasil e brasileiro dialogando com o que vinha de fora. A fim de absorver, comer na imagem canibal dos antropófagos, o que vinha de fora e dizia respeito, os autores mesclavam este caldo externo com as características e sentimentos internos. A partir dali tais sentimentos foi muito reforçado e vêm sendo à base da literatura brasileira até hoje.
Porém, mesmo desde a época em que se buscava escrever dentro dos estilos e padrões europeus já havia um estilo e uma postura própria. Os romances românticos brasileiros escritos como europeus já imprimiam um estilo e colocações próprias. O realismo também, especialmente na figura de Machado de Assis. O qual, fortemente inspirado por autores estrangeiros, mas que também tinha um profundo respeito, conhecimento e admiração dos autores nacionais daquela época, conseguiu criar um jeito particular de escrever. O qual teve um alto momento em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” que marcou permanentemente a literatura brasileira e embasou tudo que foi escrito depois.
E mesmo durante o período colonial e as estéticas europeias que houve neste longo período, havia também particularidades escritas. O jeito de escrita e de retrato das Missões em “O Uruguai” de Basílio da Gama estava em estilo arcadista, mas carregava vários estilos próprios consigo, falando daquela realidade e evento ocorrido no Brasil colonial.
Então, apesar desta tendência estética a olhar e emular o de fora, o que Ariano Suassuna chamava de “Um olhar embasbacado por tudo que vêm de fora”, o Brasil carrega consigo um estilo e um jeito próprio de ver estas coisas. Nem sempre consegue ver e valorizar a si, mas ainda tem seu jeito próprio de colocar e ver as coisas. O que o torna Brasil ele mesmo, dando um jeito particular. Como os outros lugares também se influenciam de diferentes locais e ideias, formando a si mesmo. Tais influências e confluências fazem estilos, conhecimentos e saberes. Os quais, presentes na literatura, retratam o todo visível e levantam todos os aspectos presentes.