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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Admirável mundo novo

30/7/2023 - Várzea Paulista - SP

       Como um subgênero da ficção científica, a distopia ganhou muita força enquanto forma literária no século XX. Força esta que posteriormente passaria para outras artes, como quadrinhos e cinema. O estilo se encaixou bem em todos estes quesitos. Pois, falando de sociedades imperfeitas e ruins, conseguia transmitir e falar de ideias do tempo deles, pensando em um processo mais longo, o que poderia se concretizar no futuro. O livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley foi, entre as distopias, aquele que mais conseguiu entender aspectos profundos existentes na sociedade. E para onde isto caminhava.

      O maior acerto dele foi colocar que viveríamos em uma sociedade guia e embasada no prazer, usado também como forma de controle e dominação. Um prazer artificial, usado com maneira de alienar os cidadãos. Junto com este também um total e completo desenvolvimento tecnológico, também usado como forma de manipulação e uso. Além deste ponto, outro aspecto importante desta sociedade são as castas. Onde cada ser humano é programado geneticamente para desempenhar alguma função e também ser superior a outros, já que os humanos são fabricados em laboratórios nesta sociedade. Um sistema de classes de tal maneira internalizada que as pessoas são geneticamente manipuladas para que isto aconteça. Vão dos Alfas até os Gamas. Os mais altos recebem mais oxigênio e nutrientes já in vitro. Os mais baixos recebem menos.

       Sendo este mundo essencialmente regido por um tipo de hedonismo para enfraquecer todas as tristezas e impedir o pensamento, associado com um sistema de classes que chegou ao nível genético, mostra-se como uma grande projeção da sociedade dos anos 1930, e que continua neste mesmo ritmo e padrão nos dias de hoje. Se já houve diversos eventos e oscilações na política desde aquela década, a base social e cultural continua a mesma. Ainda não se faz manipulação genética desta forma, mas não precisa. Pois a essência do sistema de classes e o acesso ao saber baseado nisto já são reais, já está organizado há muito tempo.

  E também a questão direta deste controle através do prazer, sendo esta a estética e a ideia vendida socialmente. O que gera um grande controle, pois o prazer desconhecido, sem saber por que está existindo, se torna em si vazio. Mantém perdida a pessoa que está nele, pois não se vê o arredor nem a base. Impedindo de se entender a sociedade e seus problemas. É uma postura muito presente desde aquela época, constituindo esta sutil forma de controle social. Que também se traduz em permanentes vendas de produtos. Tais condições afetam diversos setores e pessoas onde vivemos agora.

    Por ter feito estas análises, colocando questões de castas, de uso do prazer e de um cientificismo para tudo, Huxley conseguiu captar a essência, as microrrelações e as bases sociais usadas pelo capitalismo para sua reprodução e controle social. Pegou pequenas coisas presentes e mostrou seu poder, projetando grandemente em uma sociedade onde este controle estaria ainda mais presente. Certo exagero, mas algo possível. Entendendo estas relações sociais o livro abordou esta sociedade. E como alguns personagens agiriam nela para mudar. Uma obra que entendeu o mundo vivo, e para onde ele caminha.       

 
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