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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Literatura e realidade

25/6/2023 - Várzea Paulista - SP

     A relação entre literatura e realidade, ou entre os livros e a realidade é um dos temas mais caros e complexos para os autores. Pois explora em profundidade máxima a relação entre aquilo que é lido e o que é real, em permanente contato com aquilo que se entende pelo real. E o que tudo isto é de verdade. Tal tema já rendeu importantes títulos da história da literatura. Os mais clássicos e destacáveis são Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, e Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Mas também existem outros importantes como Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.

     Todos estes vão além da questão do jogo entre literatura e realidade, porém tem neste um ponto importante, o qual também se tornou marca de sua obra. Em Dom Quixote, por exemplo, por ser Alonso Queixano um nobre apaixonado por romances de cavalaria, acabou pensando que era um e saiu pela Espanha em busca de aventuras cavaleirescas. De todos os livros, é o que traz mais diretamente a questão desta relação entre literatura e realidade, pois Dom Quixote, seu nome de cavaleiro, busca aventuras baseadas no que lia e acreditava. Junto de seu escudeiro Sancho Pança, bem menos literário que o amo. Além de ser uma das bases do que hoje é a literatura e o estilo de romance, também trouxe muito a tona esta visão do que é real na literatura e o que não é. Pois é um romance sobre um personagem que passa a acreditar em romances.

    Por este, e por vários outros aspectos, tornou-se um dos livros mais influentes de todos os tempos. Já Madame Bovary também entra bastante na fonte dos romances, mas agora sob romances românticos, marcados por amores avassaladores e eternos. Pensando encontrar este em Charles Bovary, se casa com ele. Com o tédio e a decepção, passa a buscar casos extraconjugais. Por ser já uma obra que envolve diretamente casamento e relacionamentos, já possui um jeito um tanto diferente de Dom Quixote, dando outros tons para a personagem. Mas conserva a base de ser uma personagem que gostava de ler e que passou a acreditar nas histórias. E que também deve diversos caminhos e atitudes permeados pela sociedade ao redor.

     Já Triste fim de Policarpo Quaresma não é tão focado num personagem que acreditava em livros, mas em um que lia muitos livros como parte de seu forte amor pelo Brasil. O patriotismo de Policarpo era reforçado e muito alimentado pela leitura de inúmeros autores brasileiros, tanto literários quanto de outras áreas. Também de autores que falavam sobre o Brasil. Nisto também alimentava seu patriotismo ingênuo e pueril, muito voltado para uma perfeição e elevação do Brasil. Também tem muitas marcas literárias, embora também o personagem bebesse muito de convicções próprias, de um sentimento próprio pelo país. E que também entrará em caminhos e conflitos com a realidade.

      Por serem estes e outras obras também marcadas pela questão da literatura e da realidade, se tornaram um ponto paradoxal bom. Pois são obras que falam sobre personagens marcados e guiados por outras obras. Assim como os leitores muitas vezes ou buscam diretamente na literatura relações com a realidade ou, inconscientemente, sua visão sobre a realidade passa a sofrer influências literárias. E assim a obsessão e o gosto do leitor pela literatura o marcam, fazendo várias relações entre o escrito e o visto.

    Nisto também está um dos poderes e habilidades da literatura, no qual consegue trazer a tona diversos aspectos e dimensões ausentes em outros. Quando fala de si mesma e imagina personagens leitores, consegue dar voltas completas e atingir grandes formas. Miguel de Cervantes, Gustave Flaubert e Lima Barreto falaram deste tema, criando quixotescos. Um dos tipos de leitores mais comuns e fortes a existir. Com esta visão a literatura se mantém, dando valor para vida e explicações de profundidade ainda insubstituível. Os leitores seguem se influenciando e pensando coisas diferentes. Para então escrever. A realidade marcada pela literatura passa a ser entendida com mais profundidade e artisticidade.  

 
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