Autor: Pedro Fagundes de Borba
Este tema frequentemente é citado e posto em pauta. Costuma ser muito trazido em momentos de cisão e divergência de ideias, as quais levam cada uma para um caminho diferente. O fanatismo seria então, segundo os sensos mais comuns, a total adesão ou a defesa ferrenha de algum ponto. O termo já carrega algumas complicações, pois muitas vezes confunde uma defesa completa e radical de um ponto ou ideia com uma visão torpe e embaçada a respeito desta mesma ideia. Um lado que sempre precisa ser levantado acerca do fanatismo é a confusão com o uso do termo radical. Que, em si, significa, essencialmente, fazer a partir da base, da raiz que origina e permite algo. Como o ditado diz: cortar o mau pela raiz.
A questão do radical é muito questionada, mas muitas vezes se ignora seu real significado. Mas, ainda assim, existe uma questão relacionada com a questão fanática, através de uma visão mais torpe e enfraquecida. Ao mesmo tempo, perante toda a complexidade da vida e seus mistérios, somente um desejo ou necessidade muito grandes são capazes de mobilizar e concretizar ações. Há duas frases, antagônicas, que refletem bem sobre as visões fanáticas. A de Ariano Suassuna “O fanatismo e a inteligência nunca moraram na mesma casa” e a de Gustave Flaubert “Não se constrói nada de grande sem fanatismo”.
Flaubert nesta citação traz uma ideia muito profunda sobre o quanto o fanatismo pode chegar a questões fortes, e o quanto está por trás. Um escritor só escreve porque é fanático pela escrita. Um político só faz política porque é fanático pela política. Um engenheiro só faz e projeta obras porque é fanático pela engenharia. Um cientista só faz ciência porque é fanático pela ciência. Um religioso só se dedica a religião porque é fanático por ela. Todos eles podem até dar argumentos racionais, mas os caminhos e passos que fazem não são. São eles guiados por uma paixão fanática, que os faz quererem se dedicar a tais áreas e fizer tais ações. Afeta sua vida e ser de tal forma que escapa a sua compreensão, sendo aquilo que lhes dá motivo e vontade para a vida. Que lhes faz negar a ideia de que a vida não vale nada.
Suassuna, como o sábio que era, carrega em sua afirmação algo importante. Pois a inteligência só pode ser aprimorada quando confrontada e atacada por ideias opostas, por piores e indefensáveis que possam ser. Mas Flaubert ganha a prevalência, pois somente uma vontade muito forte, e porque não fanática é capaz de mobilizar ações e atos, que se encontram uns com os outros. Se ainda devemos ter inteligência para ver o que acontece e nos cerca, somente nossas vontades mais fanáticas são capazes de nos levar a criar algo, respondendo a vida em seus termos. Sem entender porque queremos isto na vida, fazemos e vivemos, sentindo as nuanças da vida. E assim, radicalmente falando, é feito aquilo que nos chama.