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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

As teocracias

17/12/2022 - Várzea Paulista - SP

   A ideia do regime teocrático tem a ver entre uma relação direta pensada entre religião e política. Este ponto varia de religião para religião, mas essencialmente, tem em comum o fato de se criar um tipo de regime baseado em preceitos divinos ou então em seguir as determinações religiosas coletivamente, como Deus ordenara e quer. Em outras palavras, são governos humanos que tentam se apegar e aplicar leis divinas. Com isso, dentro do âmbito humano e secular, nos quais a humanidade se organiza e pensa querem, pretensamente, colocar os preceitos e as regras dadas por Deus.

   Tal ideia já teve diversos formatos e governos baseados, algumas vezes apenas a existência de grupos defensores de teocracias.  Normalmente há entre estes uma ligação muito forte entre política e religião, muitas vezes incapazes de enxergar a independência de uma área em relação à outra. Muito especialmente a política possui regras e formatos próprios, se regendo. Mesmo que um suposto teocrata queira domar e por freios e normas religiosas a política, será incapaz de realizar tal objetivo, uma vez que estará à mercê dos processos, características e eventos que a política tem, não conseguindo deles escapar.

   Mesmo que tente conduzir a partir de características religiosas, estará intimamente ligado e junto daquilo que ocorre na política e em suas estruturas. Nem o Papa, nem aiatolás, nem sheiks, nem mesmo líderes religiosos informais escapam disto. O único âmbito político no qual podem conseguir um maior controle é o âmbito moral, colocando leis morais baseadas na religião. Não conseguirá dominar os âmbitos e eventos políticos, mas terá um controle e força da moral em relação aos cidadãos.  

   Ao lado, temos a questão de como Deus está presente no mundo, diante de sua criação e como é regido o universo com este fato. Para isto, dois autores, santos, deram respostas e levantamentos importantes: Edith Stein e Santo Agostinho. O aspecto mais importante de Stein neste assunto diz respeito à ideia de que a teocracia só seria real em um governo onde o governante fosse de fato Deus. Que este governaria a sociedade e lhe dirigiria de maneira direta, como um político, de certa forma. Assim se puxa a ideia de que teocracias não existem, haja vista que os governos são sempre governados por homens, com leis e estruturas feitas por humanos.

   Disto, pode ser puxada a importante divisão feita por Santo Agostinho: a Cidade dos Homens e a Cidade de Deus. Na qual a primeira seria regida pelas leis dos seres humanos, estando com um governo preso as suas imperfeições e problemas, os reproduzindo e fazendo com que não estivessem no âmbito do realmente bom. Seriam a Cidade dos Homens as sociedades feitas durante o período da vida. Então a Cidade de Deus estaria no após morte, na qual, sendo regida e governada por Deus, tudo seria perfeito e justo, por Deus ser quem controla esta sociedade. O paraíso, em muitos sentidos.

    Somente assim, de fato, teríamos uma real teocracia, a qual Deus está diretamente governando, tendo força e colocando seus preceitos. Nisto, se vê principalmente a inexistência de teocracias na vida, pois será sempre humano fazendo governo de humanos, no máximo usando leis que dizem se basear no divino. Todos os governos são Cidade de Homens, fazendo leis que humanos conseguem e conhecem. Como EUA, Reino Unido, Israel, Irã, Rússia e outros são governos regidos por esse prisma, embora digam ser levados por preceitos divinos. Mas todos, assim como os demais, estão dentro da fraqueza e imperfeições humanas.

      Os governos humanos estão sempre dentro dos limites do que fazemos, ligados com as idiossincrasias da política. Dentro do que somos criados por Deus, temos nossas próprias características e jeitos, que os fazem ser como somos, já que Deus não impõe ou determina o que podemos fazer. Não havendo teocracias, temos de ver como os governos agem, suas bases, e como nos organizarmos da melhor forma com isto.           

 
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