Autor: Pedro Fagundes de Borba
A encíclica papal “Rerum Novarum” é uma das mais importantes do final do século XIX e até os dias de hoje. É um dos documentos católicos mais profundos e influentes da era contemporânea, versando sobre suas características e contradições. Seu título, em latim, significa “Das coisas novas”, tendo o subtítulo de: sobre a condição dos operários. Reúne em si, logo, dois aspectos e sentidos: a de falar sobre a nova época, surgida após a Revolução Francesa. E discorrer sobre a condição operária, uma das classes mais numerosas surgidas na era contemporânea. Foi promulgada em 1891, pelo papa Leão XIII.
Escrita num contexto de forte discussão política, devido à pobreza vivida pelos operários e outras classes sociais, se insere fortemente no debate a respeito das questões políticos econômicas, notadamente a oposição capitalismo-socialismo. Sendo uma encíclica fortemente crítica ao socialismo, não se entrega, entretanto a defesa do capitalismo puro e selvagem. Tenta essencialmente, encontrar uma maneira de se organizar uma sociedade intermediária, na qual haja maior justiça social, através de uma cooperação de classes e melhores condições de vida coletivamente.
Inserida neste contexto dá a visão política e social da instituição mais antiga do mundo sobre a sociedade capitalista contemporânea, em suas características e contradições. Já existindo há dois mil anos, a Igreja Católica viu muito do ser humano e sabe várias maneiras de como este se organiza e age. Em cima disto também, discorre sobre o que vê. Em Rerum Novarum, levanta as questões políticas e sociais através de alguns aspectos interessantes.
Vendo os problemas e mazelas do capitalismo, vê a importância de se agir para melhorar tais condições. Por vezes seria necessária ação do estado para impedir a exploração, o qual deveria dar essa garantia de harmonia entre classes. E também deveria partir dos próprios operários, os quais a encíclica defendem sua própria organização e mobilização para solicitar direitos e condições. Dessa maneira, se manteria a forma de produção capitalista ao mesmo tempo em que seus membros se organizariam e reclamariam melhorias de vida.
Foi um documento muito importante na história da Igreja, o qual a fez entrar em temas contemporâneos, a eles estando atenta. Foram também influentes para autores católicos posteriores que falaram sobre a questão social, como G.K Chesterton e Dorothy Day. Foi também influente para alguns papas posteriores, notadamente João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e Francisco. Promulgada em 1891, é possível enxergar influências, diretas ou indiretas, em diversos governos do século XX que buscaram um capitalismo mais humano ou ao menos mais social, como o New Deal de Franklin Roosevelt ou as políticas trabalhistas de Getúlio Vargas, entre outros.
O documento mantém sua atualidade em um tempo onde os problemas sociais do capitalismo não foram superados e parecem se agravar cada vez mais. E que se mantenha forte a capacidade de se buscar melhoras e espaços para melhores condições de vida. E talvez novas formas de sociedade. Enquanto estivermos no capitalismo este documento manterá a atualidade, por discorrer sobre a organização humana na era capitalista.