Autor: Pedro Fagundes de Borba
Como filha do espiritismo junto ao candomblé e alguns ritos africanos, a umbanda carrega uma forte herança e ligação com a doutrina codificada por Kardec. Assim como o espiritismo, também carrega uma visão do ser como espírito, num mundo criado por Deus. Porém, ao contrário deste, carrega uma visão de arquétipos, de figuras que simbolizam determinados tipos de personalidade. Não correspondem necessariamente a pessoas reais, mas são figuras que simbolizam o que pessoas pensam e carregam consigo.
Por ter muita raiz e contato com negros e suas raízes culturais africanas, carrega muitos arquétipos baseados em suas condições e cultura. Entre eles, destacam-se, por exemplo, boiadeiros, caboclos, malandros e pretos velhos. Estes últimos são os mais fortes e resistentes, por aquilo que simbolizam e concretizam. São espíritos de negros já velhos, que carregaram uma vida de muito sofrimento e dor, devido ao fato de terem sido escravizados, conhecendo todos os lados e dores desta forma de vida.
Como escravos, passaram a vida nesta condição, tendo as marcas dela associadas. E, devido a isso, de maneira involuntária, adquiriram uma profunda sabedoria, por ver e sentir as condições de sociedades escravistas, sentindo e percebendo suas contradições, injustiças e características mais profundas. São figuras que se aproximam bastante de pretos velhos reais, embora sejam arquétipos, os quais lhes serviram de base para terem esta imagem.
Então, por ter este simbolismo, se associam muito com a sabedoria e os conhecimentos mais duros e secos da vida, suas contradições mais profundas. Tais figuras, ainda hoje, se associam muito com este lado dos espíritos encarnados, os quais sentem todos estes lados e entendem parte da sabedoria de pretos velhos. Ao trazer para si entidades e orixás de religiões de matriz africana, umbanda absorveu uma série de questões e figuras brasileiras, associada com vários pontos espíritas. E os espíritos dos pretos velhos carregam consigo uma grande dose de sabedoria, que absorveram por causa dos sofrimentos que passaram na vida enquanto escravos.