Autor: Pedro Fagundes de Borba
Como o assunto mais onipresente do ser humano, a política está sempre suscitando reflexões e análises. O principal motivo é, provavelmente, o fato dos humanos nunca terem conseguido criar uma sociedade ideal, com igualdade, condições e espaço para todos. Em toda a complexidade humana e política, nunca se fez um desenho realmente bom, o que impediu uma realidade capaz de abarcar todos socialmente. Todas as sociedades, todos os governos foram imperfeitos, quando não recheados de problemas.
Isso parte de questões várias, por características humanas, em seus esplendores e misérias. Já foi bastante visto e estudado, feito por pensadores vários. Grandes figuras políticas surgiram como Durkheim, Maquiavel, Marx, Hobbes, Montesquieu, Paine, Hegel, Parsons, Darcy Ribeiro e outros. Todos estes eram principalmente cientistas políticos e ou estudiosos da política como um objeto, com todas suas contradições, problemas, feiúras e êxitos. Nisso, viram como ela é o como os humanos se organizam socialmente.
Em tudo isso, entretanto, há uma visão clássica, baseada na teologia que traz pontos muito fortes, profundos e mesmo ontológica sobre a política. Trata-se da dualidade apontada por Santo Agostinho, um dos pilares do pensamento. Entre toda sua proximidade com Deus, apontou para a Cidade dos homens e a Cidade de Deus. A primeira seria regida por leis humanas, correspondendo aos países e sociedades, o mundo concreto de maneira geral, com todos os problemas e misérias humanas. Por sua vez, a Cidade de Deus seria regida por leis divinas, portanto em perfeição, capaz de promover o bem comum e o divino, por estar sendo diretamente regida pelo Criador.
Aliando a leitura agostiniana com a leitura de Edith Stein sobre as composições e bases dos estados, principalmente suas relações com religião, puxa-se outro conceito importante. Puxando a ideia de teocracia, Edith fala sobre uma oposição entre estado e igreja, no qual o primeiro poderia entrar com conflito com a segunda, por diferenças de interesses, levando a instabilidades entre os mandamentos divinos e as organizações estatais. Porém, o ponto central, é mostrar que teocracias são impossíveis, não existem. Pois se a ideia básica da teocracia é de ser governada por Deus, ou todos os governos são teocráticos ou nenhum é. Pois sendo os estados e países governados por Deus, nenhum poderia contrariar ordens ou ideias divinas. O que não ocorre, pois agem os estados com o que creem, regidos por leis humanas.
Logo, são inexistentes governos teocráticos, pois nenhum é regido por Deus, mas por leis humanas. Todos são Cidades de Homens, pelas leis destes, distantes das leis divinas que regem a Cidade de Deus. Os grandes pensadores políticos falaram e pensaram várias Cidades de Homens, em todas as suas contradições e complexidades. E vivendo aqui viveremos nossos esplendores e misérias, as quais terão de usar nossas capacidades e saberes para melhorar, levando a melhores governos e sociedades. Não vivendo em teocracia, iremos fazer criações espaços nossos baseados no que somos e podemos.