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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Pedro Páramo

7/8/2022 - Várzea Paulista - SP

   Talvez o livro latino-americano que melhor tenha falado sobre o continente. Em todas as suas complexidades e contradições, este sempre se mostrou um imenso desafio aos seus escritores. Tanto por suas voltas políticas quanto por suas inúmeras diferenças culturais. É um dos locais mais truncados e misteriosos do mundo, por tudo o que acontece e pela maneira como vivemos. Temos jeitos de ser que são muito únicos, criando particularidades incomparáveis.

    No caso, a literatura, por toda sua grandiosidade, capacidade e poder, consegue trazer a tona isto, junto com mais coisas que ali estão presentes, as quais muitas vezes sequer entendemos direito o que são apenas sentimos. Por isso, quem escreve coloca o que vê e percebe, no nível mais profundo que pode atingir. Nem sempre isso significará uma grande obra, mas haverá honestidade artística. Nos dois sentidos, poucos autores conseguiram chegar tão bem e tão fundo quanto Juan Rulfo.

     Em sua obra-prima, “Pedro Páramo”, o escritor mexicano conseguiu falar muito de seu país, através de uma pequena cidade do interior, mas também de muitas idiossincrasias latino-americanas.  Quando fala da vida naquela cidade fantasma mexicana, dando bem a localização geográfica e cultural, consegue falar essencialmente dali. E junto vem muitas semelhanças com outros locais parecidos espalhados pelo continente.

      O reencontro do protagonista Juan Preciado ao local, que fora governado por seu pai que nunca conheceu, o Coronel Pedro Páramo, traz uma dimensão social e simbólica que elevam demais a força do material literário. Colocando as figuras da cidade, como Damiana Cisneros, Eduviges Diada, Padre Rentería, Susana San Juan, Miguel Páramo e vários outros, traz figuras que falam muito sobre a cidade e as almas. Neste ponto, o livro chega também a um ápice, por causa de ser uma cidade fantasma, onde os personagens são mortos que ali ficam já que não conseguem se livrar do que fizeram, mantendo aquela cidade com sua presença.

     Com a soma de todas as qualidades literárias, a obra fica em sua maior forma, transmitindo tudo aquilo que há de melhor.  Fala profundamente sobre o México e em outra escala também sobre outros países do continente, além de associar com a grandiosidade artística e literária. Poucos autores latinos chegaram a tal ponto, ainda mais numa obra tão curta. E isso consagrou Juan Rulfo em sua maravilha literária, seu talento. Muitos tempos ainda irão ler este autor para que nos entendamos e façamos literatura que fale sobre nós e tenha excelente qualidade.

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