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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Mãe-Pátria

31/7/2022 - Várzea Paulista - SP

      Este nome é um paradoxo escrito, mas funciona muito bem. Pátria vem de pátria, em latim, que significa pai. Então estaria associada às características paternas, o que o pai faz. Governa, serve como força, espaço e tem uma coesão, uma maneira de conduzir a política e a vida paternamente associada. Estaria distante dos conceitos de mãe, que seria efetivamente mais atenta a detalhes, também a um carinho maior. Mas, principalmente, um jeito mais introspectivo e atento de perceber as coisas.

      Esta duplicidade fica muito visível na própria estátua da Mãe-Pátria, em Volgogrado, Rússia. Sendo esta a antiga Stalingrado, teve o nome alterado durante a desestalinização da União Soviética do governo Khrushchov. O novo nome vem do Rio Volga, o maior rio da Rússia. A construção da estátua se deu pouco após a segunda guerra, como uma maneira de comemorar a vitória soviética sob os nazistas na batalha de Stalingrado, um dos momentos decisivos para a derrota do nazi-fascismo. Bem como é uma homenagem e lembrança aos soldados soviéticos mortos na Segunda Guerra, muito homenageados com a chama eterna, dentro do complexo da estátua. Por historicidade, na época do aniversário da batalha, a cidade volta a ter o nome de Stalingrado. Na mesma época, pelo mesmo motivo, foi também erguida uma estátua de Mãe Pátria em Kiev, na atual Ucrânia, então parte da União Soviética.

      A escultura em si, bebe de várias fontes e tradições artísticas. A mais notável vem do ideal e estética francesa. Principalmente após a revolução francesa, onde figuras femininas passam a ser símbolo da política, principalmente a república e liberdade. Principalmente a Marselhesa, presente como uma pequena escultura no Arco do Triunfo em Paris. Ou o quadro de Delacroix: A liberdade guiando o povo. Também se veem inspirações na deusa grega Nice, deusa da vitória, chamada de Vitória pelos romanos. Todas essas figuras simbolizam a mãe que convoca filhos a guerra, na defesa. E traz consigo uma integridade. Os soviéticos bem absorveram esta estética política, pondo a Mãe Pátria erguendo uma espada em sinal de batalha.

       A grande estátua termina sendo de fato uma Mãe Pátria ao combinar força paterna e atenção materna. A questão feminina se sobressai, trazendo as visões e forças associadas, garantindo profundidade. A associação entre política e mulheres simbólicas fica bastante forte, levando a uma estética que associa pátria a figuras femininas. Um paradoxo grande, mas muito consistente, que permite ver o materno e paterno em sua combinação mais certeira.

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