Autor: Pedro Fagundes de Borba
...começa olhando tua aldeia. Esta frase, de Liev Tolstoi, diz tanto, e ajuda a elucidar tanto, que valerá dissecá-la. Uma das coisas que muito se põe em pauta é a questão da universalidade, da abrangência. E, principalmente, do quanto algo dito sobre um lugar fala sobre todos. Ou seja, o que uma coisa diz sobre as outras, o quanto um humano diz a respeito do outro. Todos esses debates, em literatura, e outras áreas, são bastante antigos, e já geraram muitas ideias.
Uma concepção que ainda existe, embora seja muito fraca, é a de que tudo falado num lugar dirá respeito a humanos de outros lugares, pois todos têm as mesmas características. Tal ideia é fraquíssima, desconsiderando regionalidades, particularidades e culturas, reduzindo tudo a uma homogênea mistura infame. Há também uma ideia a respeito de que tudo é regional, inexistindo a universalidade, sendo apenas a universos restritos, permeado por suas próprias características.
Algo muito importante na questão da universalidade é o tempo. Porque, num determinado período, o mundo se organiza de um jeito, sendo essencialmente como é. E influenciando aqueles que nele estão. A partir disto, consegue se entender uma época e suas organizações e culturas. Como os países e povos interagem ,se comunicam, terminam tendo coisas em comum e compartilhando ideias. Dentro de uma época, isso forma uma totalidade, uma organização do mundo que tem suas particularidades, mas que estas várias ficam em contato e influência.
A partir disto a frase de Tolstoi ganha sua grandeza. Porque, antes de qualquer outra coisa, somos filhos dos lugares, famílias e contextos onde vivemos. Ali, enxergamos o mais profundo, o mais universal, porque o que somos e sabemos vêm, em grande parte, dali. Portanto, falando dali, fala-se sobre o mais profundo conhecido, trazendo coisas caras e relevantes aquele tempo e vários locais, trazendo características comuns naquele período. O que revela a universalidade ali existente, e como são naquele tempo. Porém, para isto, deve-se conhecer onde se está e as características dali, bem como se relacionam e assemelham a outros lugares.
Finalmente, podem-se colocar os locais como espaços de características próprias e de adaptações de questões mundiais em formas locais, a maneira como essa ideia se adapta ali. Literariamente, as obras se inspiram umas nas outras, baseadas no que cada uma apresenta, mas em diálogo com o espaço onde são escritas. Falam sobre o que é caro e conhecido ao autor, o que termina dizendo de outros lugares também. Falando sobre sua aldeia, o autor consegue mergulhar a fundo nas ideias, formas e realidades, enxergando o real, que pode ultrapassar a ideia de universal, sendo o que é ali presente. Ou ver toda uma época em suas formas. Algo que diz sobre o espaço, num momento também puxando outros, com coisas parecidas ou diferentes.
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