Autor: Pedro Fagundes de Borba
No começo do manifesto, um dos mais famosos textos da literatura socialista, Marx e Engels falam sobre o espectro que ronda a Europa: o espectro do comunismo. Este está rondando o continente, permeado relações sociais e ideias, e os líderes europeus estão em conluio para combatê-lo, dos industriais ao czar. Por ser um dos primeiros textos dos autores, as realidades descritas ainda são umas alheias as suas obras, diferente do século XX e XXI.
Bem reforçado por Marx em “Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”, quando alguma mudança social, por menor que seja, é apresentada e proposta, forma-se uma reação contrária muito forte. Normalmente, para isso, faz-se uma retórica de ameaça socialista, de atentado a vida cristã e a civilização. Antes de alguma revolução socialista acontecer, já havia muito esta retórica. Em verdade, já há esta fala e posição desde o inicio do capitalismo, basicamente.
Nisto reside a questão do espectro comunista. Porque, como se faz a contraposição ao capitalismo desde que este se tornou o sistema dominante, significa dizer que ali formava-se um espectro. Que, começando com os utópicos, foi se concretizando nas ideias e construções socialistas, posteriormente comunistas. Houve algumas outras formas de pensamento que fazia esta oposição, como o anarquismo. Mas que não ficaram tão fortes ou influentes.
Tal espectro virou praticamente este fantasma que está junto ao capitalismo desde então, como alternativa as mazelas do sistema baseado no capital. Baseando-se nos problemas e mazelas geradas por tal condição, o espectro passou a se desenhar. Embasado principalmente em ideias de justiça social e igualdade. Uma vez entendido, passou a influenciar e inspirar diversos movimentos sociais e políticos.
No século XX, essas ideias ficam mais fortes, inspirando direta ou indiretamente uma série de revoluções. Como a mexicana, russa, cubana, chinesa, coreana e outras. Em todos esses casos, se tem o socialismo como base, mesclado com as realidades locais dos países citados. Apesar das mobilizações sociais e as movimentações internas, não se conseguiu desenhar a sociedade que tinha sido concebida daquela maneira, pelas políticas locais e pelo fato de não ter se espalhado hegemonicamente pelo mundo.
Desde o fim da guerra fria, se anuncia o fim do socialismo. O sistema teria caído e não poderia voltar. O espectro teria então desaparecido e ficado apenas algumas brumas em seu lugar. Mas tal espectro não desapareceu. Tanto pelo fato de que os problemas básicos do capitalismo continuam os mesmos quanto por estarem aumentando. Sem contar a força que acusar de socialistas ainda causa, sendo uma forte retórica política antissocialista, mostrando a força que o espectro ainda tem.
Uma vez que o espectro ronda desde o surgimento do capitalismo, só desaparecerá com o fim deste. Pois é o principal contraponto, aquele que desenha uma sociedade mais justa e igualitária. Dificilmente sociedades com tantos problemas sociais ficarão sem buscar um contraponto, algo que diferencie. Resta saber como ainda virão os movimentos sociais e organizações políticas.
Muito provável ainda tenha uma revolta maior, gerada pelo desgaste das relações sociais, que levará a uma revolução que modificará a sociedade. Mas isso não significa que mecanicamente virá o socialismo. Pode ser que sim, pode vir um regime ainda mais explorador, pois as ações políticas são feitas por si mesmas. O capitalismo terá de se resolver em si, vivendo e sentindo suas contradições e antagonismos. Se não existir mais, terá outra sociedade com outro espectro de contraponto.
Será o caso entender isso, para que se conduza ao contraponto de melhor realidade. Entender as relações sociais e como contrapor será um dos maiores desafios do século, através da maneira política que se reduzirá problemas. Que as questões da sociedade se resolvam, e o espectro sejam possíveis, pois nele se vê outro lado dos problemas, com cultura e pensamento em volta. Talvez fique afastado, mas certamente não desaparecerá tão rápido.