Autor: Pedro Fagundes de Borba
A sereia é um ser mitológico. Dentro deles, existem verdades muito humanas, que se revelam conforme são interpretados e comparados com o real e as situações. Como falou Fernando Pessoa: o mito é o nada que é tudo. Os mitos então falam sobre o ser humano, suas características mais profundas. Coisas que não entendemos de verdade, mas que sabemos existir é ali descrito de maneira a vermos o que aquilo é, mas através de histórias ou figuras. A sereia é um dos mais antigos e um dos mais complexos, certamente. Poucos mitos conseguem atrair a imaginação com tanta força, uma prova de sua profundidade criativa e o seu significado simbólico.
Sua ideia mais básica, a base de seu ser, é que é seres metade peixe, metade humana, normalmente mulheres. É uma cauda de peixe e um torso humano. E são grandes cantoras. Basicamente, ficam em cantos ou rochas do oceano cantando, para atrair vítimas. Para virem marinheiros ou outras pessoas. Por causa de sua aparente beleza, conseguem atraí-los, fazendo com que caiam em seus cantos. E aí os devoram. Esta história, mesmo sendo aparentemente simples, traz muitas coisas em volta, as quais vão se revelando em várias outras. Assim os grandes mitos se criam e continuam revelando suas coisas.
Neste caso, pode-se traçar um bom paralelo com as pessoas e as situações. Porque muitas vezes ouvimos coisas que se assemelham a estes cantos. Não como algo que aconteça literalmente, mas sim que de fato muitas enganações, muitas aparentes coisas podem vir aparecer e acontecer. Parecem se colocar de tal forma que levarão a algo positivo, que falam o certo e o verdadeiro. Isso acontece porque muitas vezes o não tão bom vem em aparente bela forma, levando a nossa confusão e a vermos ali a verdade, algo que seria aquilo que procuramos e seria. Mas não o é. É apenas uma confusão, um truque para aquilo vir e ludibriar.
Uma vez que nos deixamos levar pelo canto, somos arrastados e destruídos no processo, como os marinheiros do mito. Porque, por mais estranho que pareça muitas vezes ideias falsas e ruins se disfarçam de boas, parecendo ser uma coisa que não são. Então cabe a nós sabermos nos manter, atentarmos com cuidado para informações. Talvez a mais famosa história de sereias seja a apresentada em Odisseia. Quando Odisseu e seus homens vão atravessar uma passagem com sereias, estas já começam a cantar. Ele então ordena a eles que cubram os ouvidos para que não sejam por elas enfeitiçados e consigam passar, sigam sua viagem. Passam.
Na vida isto muito acontece, na maioria nem percebemos. Para bom sucesso em nossas questões, cabe a nós fechar nossos ouvidos para as sereias, como Odisseu fez. Porque senão seremos atrapalhados e desviados. Quando tentamos nos manter de pé, muitos balanços virão, levando-nos quase para a queda. As sereias não podem nos pegar, não podem vencer. Não sei por que existem, mas existindo precisamos saber ver. E nos afastarmos. Então, cuidado com os belos cantos, pois podem ser sereias.