COLUNISTAS
Autor: Pedro Fagundes de Borba
Cultura do loser
20/3/2022 - Várzea Paulista - SP
Dentro de suas ideologias, culturas e valores, cada país forma algumas idiossincrasias. As quais, muitas vezes refletem ou são refletidas por outras. Porque, pelo bem ou pelo mau, terminam mexendo e dizendo sobre outras pessoas de outros lugares também. Desde a segunda metade do século passado, quem domina culturalmente o mundo, e politicamente também, são os Estados Unidos. Com base nisto, muito de suas ideias e valores são transportados ou configurados em outros lugares. Portanto, termina sendo um elemento que passa a existir lá também. Pelo bem e pelo mau, estão ali presentes, fazendo parte daquele conjunto, grupo ou universo.
Uma coisa que é muito forte na cultura americana é a questão da competitividade e do excepcionalismo, o chamado self made man. Esse seria alguém que cresce sozinho por suas capacidades e habilidades. E por ter esses méritos, mereceria ter maior força, poder e capital que os outros. Isso sedimenta uma cultura de diferenças sociais e de alguns serem melhores do que os outros. Tem também o nome de meritocracia, ou seja, aquele que é competente e ganha em cima da economia. Desse jeito, os mais fortes têm seus poderes reconhecidos e consolidados. E as pessoas teriam liberdade para fazer ideias e levariam, tendo algum poder consolidado e capacidade de viver com suas habilidades.
Para além dos problemas e desigualdades sociais que isso gera, existe também um contraponto nesta mesma cultura que contraria o meritocrata. Que é o chamado “loser”, ou seja, o perdedor. Se há um vencedor é porque existe um perdedor também. E esse perdedor é aquele incompetente, sem capacidades, imprestável, o qual está sujeito a viver sua vida inteira assim por causa de sua inutilidade e incompetência. Isso é forte nos EUA e ganha contornos e regionalismos nos locais em que o país tem força econômica, cultural e política. Em todos esses espaços, se distinguem essas pessoas que nada se tornam senão sombras, coisas que nada são. Isso é criado e alimentado por essa cultura, que separa pessoas e cria situações em que uns são bons e outros ruins.
Essa cultura é extremamente prejudicial. Nela reside que os bons ascendem e os demais perdem. Os bons esbanjam enquanto os ruins devem ser esmagados vivos. Tais determinações vão cada vez mais minando, criando losers cada vez mais numerosos e ainda mais fracassados. Cria-se um ambiente de superioridade, onde alguns são melhores do que os outros. Tal cultura precisa acabar, para que não haja mais losers e as pessoas possam ser apenas como são. Portanto, devemos ver como os chamados meritocratas ascendem, porque tantos não conseguem e o que queremos com isso. Dessa maneira, será possível ter fim tão ruim cultura que leva tanta gente a não ser nada. Que possamos todos ser todos.