Autor: Pedro Fagundes de Borba
O Juche é a ideologia oficial da República Popular Democrática da Coreia, também conhecida como Coreia do Norte. Faz, em tese, parte do espectro e das correntes socialistas. Porém, é uma de grande bizarrice constituinte, com visões, decisões, organizações e governança que destoam completamente o que seria o socialismo ou aquilo escrito sobre ele.
De longe, o sistema norte coreano não pode ser dado como corrente socialista, tanto pela questão da realidade do país quando por sua composição ideológica. É um país extremamente sui generis, com uma realidade que não há em nenhum outro. O Juche surge após a segunda guerra mundial, durante a Guerra da Coreia. Após um período de ocupação japonesa, a península coreana estava buscando se reafirmar como nação, como um lugar próprio. Neste mesmo contexto, no ano 1948, já se vivia a Guerra Fria, as disputas americanas e soviéticas. Isso atingiu em cheio o território, que se dividiu em norte e sul, associados aos soviéticos e aos EUA, respectivamente. Durante alguns anos, intensas batalhas foram travadas para decidir qual seria a política oficial da Coreia.
O conflito não levou a uma vitória sobre um lado, fazendo com que o país fosse dividido. Até hoje, o que existe entre os países é cessar-fogo, o conflito está como ocorrendo. São divididos pela linha do paralelo 38, onde há constantemente soldados prontos para um eventual conflito armado. A parte norte ficou sob algumas orientações soviéticas e a sul sob americanas. Devido a não ter uma grande vitória sob nenhum dos lados, o país ficou dividido entre estes dois espaços e a reunificação não ocorreu. Cada um dos dois reivindica ser a Coreia oficial, buscando anexar a outra para concluir este processo. Principalmente a do Norte faz assim.
Embora seja parcialmente inspirado no stalinismo, o Juche segue uma ideologia diferente e que poucas semelhanças têm com as leituras e criações do socialismo. Seu nome, em coreano, significa autossuficiente. Assim se chama por crer que a nação deve existir apenas por si mesma, se afastando o máximo possível do contato com outras. Assim termina discordando de vários pontos do socialismo. Em primeiro lugar por priorizar muito mais um sistema de governo baseado não na questão da igualdade social ou de organização dos meios de produção para que os que produzem tenham acesso. Mas sim em um tipo de governo baseado em um líder supremo, que tem em sua população uma espécie de grande família. Assim a prioridade não são questões sociológicas ou econômicas, mas um bizarro tipo de culto.
A ponto de que o segundo líder, Kim Jong il, pai do atual, ter alegadamente nascimento divino, tendo brilhado uma nova estrela no céu e um arco Íris surgido, mostra a particularidade deste regime e ideologia. Então tudo é organizado em torno desta ideia, não priorizando as organizações populares. É um dos países mais fechados do mundo, mantendo relações diplomáticas com poucos outros. O Brasil é um deles, tendo uma embaixada na capital Pyongyang. Também eles possuem uma embaixada em Brasília. Também tem um foco muito grande na tradição nacional, contrariando alguns preceitos socialistas que afirma ser necessária a criação, se afastando de cultos e questões tradicionalistas. Assim como sua visão de nação fechada, em visão e construção anti internacionalismo. A qual, para ser possível o socialismo mundialmente precisaria haver uma forte união entre países.
O Juche é interessante na medida em que revela as formas e os desenhos em que um governo pode se configurar. Afinal, com toda essa mistura surge um governo sui generis e com grandes contradições e problemas. É uma demonstração dos quão complexos governos podem ser, e as bizarrices vindas disto. A política mostra-se com mais faces do que se conhece. Por isso, os governos podem virar tantas coisas. E serem próprios neste sentido. A maioria dos marxistas não veem na Coreia do Norte um socialismo, porque não é. Um governo feito de características próprias, que joga com várias ideias. Que possamos ver como organizar as políticas.