Autor: Pedro Fagundes de Borba
No território entre a Polônia e a Rússia, fica essencialmente o leste europeu. Embora os países citados também façam parte desta região, são seus estados mais bem estabelecidos. Uma série de países e nações já esteve neste espaço e acabaram se desfazendo, virando outros ou mudando a forma de seu território. Mesmo a Polônia, já teve várias formas. A Rússia é o mais forte e organizado destes, possivelmente por ter um poder maior, um governo mais centralizado num espaço. Isso pode levar a uma série de reflexões sobre estados e o ato de governar, mas irei focar em outro aspecto.
Neste sentido, o território do leste europeu já foi vastamente organizado, fatiado e colocado. Há uma variação muito grande de povos e línguas faladas na região. Antes da primeira mundial, havia um desenho, e diversas disputas. A influência russa é muito forte na região, desde os tempos czaristas. Durante o período soviético, a União Soviética manteve sua força e influência fortalecida. Com a quebra e seu fim, o território do leste europeu viu algumas fragmentações. Alguns países já existiam, outros se fortaleceram depois. Um país que surgiu neste processo foi a Ucrânia, que faz fronteira direta com a Rússia.
O território ucraniano tem uma divisão forte em relação a nação e alinhamento. Como era parte da União Soviética, não havia propriamente uma divisão e formação de território e nação ali. Por isso, o sentimento de pertencimento e de espaço é bastante diversificado internamente. Uma parte do país se proclama ucranianos, e buscam aliança com ocidente, OTAN e rejeitam a Rússia. Querem um afastamento completo. Cultivam um forte sentimento anti-russo, apoiando os movimentos ocidentais contra o país. Por outro lado, há regiões que gostam e procuram se manter próximos a Rússia, por se sentirem parte dela. Uma tensão forte ocorre entre estes dois grupos que disputam as questões territoriais. Mesmo a Ucrânia vive uma guerra civil em algumas partes, por causa desta divisão de sentimentos. Na região de Dunbass, fronteira com a Rússia, a guerra é forte. Principalmente por boa parte de aquela população ser a favor dos russos.
Sobre o nacionalismo muitas coisas nele são suspeitas. Ele cresceu muito junto com o nazismo, que via nos ucranianos uma forma de enfraquecer os soviéticos, dando apoio para separação e afastamento dos dois povos. Para isso, incentivou que os ucranianos fossem anti-russos, aumentando o sentimento nacionalista. Não chegou a criar, mas incentivou muito. Mas há forte divisão entre os sentimentos do país e as relações. Um dos eventos mais motivou as tensões foi à anexação da península da Crimeia, em 2014. Tendo sido russa por séculos, foi cedida nos anos 1950, durante o período soviético. Agora Putin anexou novamente. O território faz parte das regiões pró-Russia, com 97% da população sendo favorável a esta realidade. O interesse russo tem muito a ver com a questão de ser um porto de águas quentes, o que não existe na maior parte do litoral da Rússia. As águas congelam durante o inverno nestas regiões, dificultando as navegações.
Há soldados perto da fronteira ucraniana vindos dos russos, e da OTAN em países próximos. EUA prepara soldados, a fim de enfraquecer a Rússia, caso invada a Ucrânia. É improvável que aconteça, tanto pela maior força do exército russo em relação à Ucrânia quanto às relações comerciais que o enorme país tem com a Europa. É um dos maiores fornecedores de gás, não sendo interessante para os europeus ocidentais terem risco de perder. Há certo interesse ucraniano nisso, pois os gasodutos passam pela Ucrânia, deixando ali uma porcentagem de lucro. Agora, talvez haja conexão direta entre Rússia e Alemanha, desagradando à Ucrânia, que tem na Rússia seu maior parceiro comercial. Há uma briga média entre eles, mas que dificilmente desencadeará guerra. Não há cenários nem motivos grandes o suficiente para isso. Apenas uma tensão antiga que provavelmente não se escalará nem será resolvida. Questões assim podem levar séculos, como está levando. Melhor quando não escalam tanto.