Autor: Pedro Fagundes de Borba
Jorge Luis Borges foi um dos autores mais originais e peculiares que já existiram, trazendo questões e possibilidades literárias ainda não vistas. Era um homem de gênio literário gigantesco, um dos maiores gigantes do século passado nas letras. É o maior escritor da América hispânica, tendo dos que vieram antes quanto os de depois. Em verdade, tem uma disputa bastante acirrada com Juan Rulfo, mas ainda fica um pequeno passo a frente. Esse passo é dado por sua exuberância criativa, por sua capacidade literária e a complexidade de sua escrita e criação de autor. O escritor argentino certamente trouxe inúmeras inovações e referências literárias que nenhum outro, de lugar nenhum, havia feito antes. De maneira muito injusta, perdeu o Nobel de literatura, mesmo tendo trazido importantes questões literárias. Divide com Machado de Assis o posto de maior autor da América Latina, ainda que fique um pouco atrás do bruxo. Ambos fazem parte, entretanto, da literatura em sua maior forma e qualidade.
Como criação literária, levou a arte a formas ainda mais novas. Através de seus contos, fez representações literárias de coisas ainda não colocadas fazendo ver novas coisas deste mundo e até de outros em várias delas. Alguns deles, não possuem muitos personagens ou escrevem baseadas nas narrativas de coisas que são outras além de pessoas ou seres vivos em geral. Mas através disto, fez inovações na escrita, e nas possibilidades de escrita. Borges vai numa especulação intensa, falando sobre lugares, imaginando sobre outros e criando personagens em situações ou mesmo em comuns, mas com abordagens muito originais. Julio Cortazar, grande admirador de Borges, também usava de abordagens e entrelaçamentos de questões fantásticas, mas de maneiras mais concretas. O mundo de Cortazar fala de maneira mais concreta, sendo também gigantesco e colossal escritor. Mas que não tem o mesmo alcance e visões borgianas.
A melhor maneira para se colocar as qualidades do autor, é ir descrevendo como isso aparece em sua obra. Porque daí se mostra no material a forma e o jeito, permitindo que se cheguem a mais aspectos. Em seus contos mais famosos, “A biblioteca de Babel”, “Tlön, Üqbar e Orbis Tertius” e “Exame da obra de Herbert Quain”, não há bem personagens, há explorações de temas. Uma biblioteca infinita, planetas imaginários e a obra de um autor imaginário, respectivamente. Esses fazem parte de “Ficções” seu livro mais aclamado e conhecido. Aí, o que se sobressai é a imaginação do escritor, o jeito que explica os ocorridos, conseguindo extrair questões literárias gigantescas, colocando outros pontos não vistos. Falava sobre o universo, o que nela está existindo, especulando sobre e as relações com os livros e bibliotecas. Ou, simplesmente, examina a obra de um escritor que inventou, falando sobre escrita, sobre como se relaciona com outras obras e como isso se compõe enquanto literatura. Rapidamente falando sobre “Pierre Menard, autor de Quixote”, ele vai um pouco como Herbert Quain, mas com personagem, o Pierre Menard. Um autor que quer escrever uma obra do mesmo porte e qualidade de Dom Quixote de La Mancha, o que fica impossível. Borges vai mostrando os passos de construção dessa suposta obra e como o autor age e faz por estes momentos. O personagem é marcante e mescla as qualidades de representar aspectos da arte de maneira narrativa e um personagem junto.
Para além destes, pode ser citado os livros “História universal da infâmia” e “O informe de Brodie”, onde os personagens são mais focados. Principalmente o primeiro, usa de narrativas mais simples, com figuras até mais policialescas. Preservam e mantém boas características, com personagens marcantes e histórias pelo menos bastante divertidas, que fazem ver questões de infâmia ou pontos bem feitas. Não são tão complexas quantas as de Ficções, mas mantém qualidade alta também. O bom fica principalmente nas histórias contadas e em algumas voltas. Uma vez o crítico literário Harold Bloom chamou Borges de o mais culto leitor de HP Lovecraft. Faz sentido a frase, pois o argentino usa de recursos literários mais simples não só de Lovecraft, mas também de outros autores similares. Como GK Chesterton e Edgar Allan Poe. E através disso, soube enriquecer muito sua escrita e trazer pontos que estavam presentes nestes autores, mas que não eram colocados.
Um conto que merece um destaque especial é o Aleph, presente no livro de mesmo nome. Traz uma ideia nele muito interessante, sobre um lugar onde se poderia ver todo o universo e suas questões. Seria um ponto luminoso embaixo de uma escada no porão de uma casa. Onde morava uma falecida amiga do protagonista. E ele gostava muito dela. Faz ver coisas sobre a vida e do que e como o universo é feito. Também a relevância e importância disto para o cotidiano e o pessoal, a maneira que se interpreta, coloca e vive. Com tudo isso, fala bem sobre lugares, espaços e o universo.
A grandeza literária de Borges reside nestes, entre muitos outros pontos. Porque ao jogar na escrita com aspectos imaginativos, falar sobre escrita ou contar boas histórias, levou a conseguir novos patamares literários. Por isso, entre outras coisas, se consagrou como autor e fez nova literatura. Um escritor que ficará muito marcado e inspirará sempre novas ideias de escrita. Sua originalidade deu novos sentidos a literatura e continuará fazendo. Um dos grandes autores de todos os tempos. Jorge Luis Borges criou novas formas de fantástico e de realidades.