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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Militares democráticos

8/8/2021 - Várzea Paulista - SP

     Na época da ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964, os militares mantinham o poder, fazendo um controle e regime militar sob a sociedade, em oposto ao governo civil derrubado. Neste contexto, com a intensa e crescente repressão, se tinha como objetivo principalmente evitar um suposto golpe comunista, que seria impossível de ser feito, não havendo qualquer coisa próxima a, na época, ideologia marxista que tinha inspirado o governo soviético. O derrubado João Goulart não possuía ideais ou medidas socialistas, tendo como plano apenas as reformas de base, que poderiam diminuir algumas desigualdades da sociedade brasileira.

     Os militares que governaram se alternavam entre dois grupos, a linha dura e a linha moderada. Os primeiros favoráveis a um permanente governo, os segundos defendendo provisoriamente, até supostamente afastar os perigos e problemas do comunismo, um autoritarismo e vício de poder. Ainda que, por suas posturas, estes tenham sido os mais poderosos e as posições majoritárias do exército, os militares também tomaram outras ideias, defendendo outras posições perante o estado brasileiro.

        Por estas posições, e pelos espaços e conhecimentos privilegiados em termos de estratégia e possibilidade de ação militar, foram bastante perseguidos, a maioria destes tendo sido torturados e mortos. Ainda que vários outros setores da sociedade também tenham sofrido perseguição, principalmente militantes e artistas, estes não possuíam um conhecimento e uma intimidade com a realidade e planos militares para que soubessem melhor do que se tratava, ou fossem tão perigosos contra a ditadura. Por ser uma instituição profundamente associada com o país, dotada de poder bélico, quando consegue assumir o poder o mantém com muita força. E tem grande maneiras de manter e entender as situações e manobras políticas que acontecem.

        Citando o mais importante destes militares que se opuseram a ditadura, falo do Marechal Teixeira Lott, ocupante do então mais alto posto do exército. Já era uma figura conhecida na política brasileira, por ter garantindo as posses de Café Filho e JK, quando era tramado e conspirado um golpe pela direita, tendo evitado duas vezes de acontecer. Em 1960, concorreu civilmente a presidência, tendo perdido para Jânio Quadros, que renunciou oito meses depois, sendo João Goulart o vice. Mais uma vez tentado o golpe, Brizola o evitou através da campanha da legalidade, o mesmo que posteriormente evitou o parlamentarismo no Brasil. Até 1964, Lott não teve mais tanta aparição nacional, mantendo suas ideias e formas como legalista. Com o golpe, tornou-se recluso, vendo que já não havia o que ser feito, passando assim os últimos vinte anos de sua vida. Morto em 1984, foi enterrado sem honras, apesar de seu alto posto.

         Mesmo não tendo sido perseguido de fato, por sua experiência, conhecimento e talvez certa astúcia militar, foi alguém que se destacou. Outros que lutaram de forma mais explícita após o golpe, foram mortos. Por terem esta posição, conheciam melhor como agir politicamente num contexto de militarismo. Sendo um exército o braço do estado responsável por fazer proteção e defesa de interesses, trata-se de uma peça importante, ainda necessária, apesar de não bonita. Por isto, trata-se de algo que deve ser visto e entendido, como maneira de agir. Como as questões bélicas são partes e recursos para o qual a política acaba recorrendo, principalmente em momentos de crise política e momentos em que mudanças e alterações sociais podem vir ocorrer, desestabilizando pontos básicos do sistema, é importante entendê-las, mesmo para se saber como agir, como usar estas forças em alguns sentidos.

       Buscando entender e fazer usos destas forças, não apenas Lott, como vários outros militares se opuseram ao golpe e a ditadura, lutando contra, como também sabendo quais pensamentos e formas poderiam ter sido aplicadas, mantendo a força nacional. Se, por um lado, as linhas moderadas e duras venceram, alternando no poder conforme circunstâncias e decisões internas, por outro não eram o exército todo, este constituído também de membros e grupos que defendiam governos mais progressistas ou, ao menos, a democracia, o sistema e a eleição civil. Estes tendo sido presos e torturados, muitas vezes mortos, demonstram o tom autoritário e antidemocrático, do estado brasileiro e seu exército, que buscava morte e repressão, evitando que o discurso político e o país se desenvolvessem.   

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