Autor: Pedro Fagundes de Borba
O personagem é sempre representação. Construído representa sobre o que fala. É humano por causa da imitação que faz do ser humano, da maneira de se viver. Em “Auto da Compadecida”, Ariano Suassuna criou personagens extraordinários, representando fortemente aspectos humanos, especialmente do nordestino brasileiro. Falarei sobre Severino de Aracaju, líder de cangaceiros na peça.
Atacando a igreja na qual se passa a história, assume sua posição como manifestação da cólera divina que cai sobre os presentes. Atacando o padeiro e sua mulher, se põe contrário ao egoísmo, luxúria e ganância. Sobre o padre, bispo e sacristão, as contradições e ganâncias da igreja. Enganado por João Grilo, com o truque da gaita, morre. Durante o julgamento conduzido por Encourado, Compadecida e Jesus, é absolvido e mandado ao paraíso por se entender que fizera o que fizera como instrumento da cólera divina, enlouquecido após os pais terem sido mortos pela polícia.
O personagem carrega em si a justiça divina em sua forma. Se manifesta através das injustiças criadas, o que aumenta sua cólera, fazendo com que caia sobre seus pecadores, presentes na igreja, aquele momento. Severino é então a manifestação daqueles que fazem suas ações movidas por seus contextos, misturando seu bom com seu mau. Através dele, Deus joga suas formas, garantindo que aconteça o que é justo, cada um tendo o destino que bem merece a absolvição no caso de Severino de Aracaju, por ter feito o que fez devido ao que viveu, sendo assim alguém para o paraíso. Personagem capaz de levantar vários aspectos humanos teológicos, e de ser daquele jeito devido a sua forma e condição.