Autor: Pedro Fagundes de Borba
O Natal se trata de uma data de importância elevada, por seu simbolismo, pela sua construção histórica e por valor político-simbólico e cultural. A imagem de Cristo, sendo inspiração para grande parte da humanidade, representante do bem em sua forma máxima, ou seja, o ideal sobre o qual se debruçam; a forma de vida a se alcançar. Chegou à cultura brasileira por influência dos países colonizadores, e se mesclou a ela também, desta fazendo parte. O gaucho de Bossoroca, payador Jayme Caetano Braun, falou sobre o natal em sua payada “Natal galponeiro”, incluída em sua coletânea “Brasil Grande do Sul”.
Começa falando que a cuia de chimarrão é o cálice do ritual e o galpão a catedral maior da terra pampeana. Dentro do espaço gauchesco, levanta o chimarrão e faz prece ao andarilho. Conta e pensa sobre Jesus e sua trajetória, características dele, aqueles que o perseguem, e sobre características do Rio Grande do Sul relacionadas a Jesus.
Fala sobre causos de campo e rodeio nas Missões, sobre o negro do pastoreio, lendas, cobras e assombrações queimando luz, quando cruzava pelos rincões, Jesus, junto de Sepé, foi seu sinuelo de fé. Também a Virgem Maria, madrinha dos que não tem, fez parte de sua filosofia, ele que fez de sacristia os ranchos de chão batido, bendizendo até hoje o pago onde foi parido.
Fala a sabedoria de Jesus, que sabe a apertura em que vive o pobrerio, fome miséria e frio porque passam a criatura. E, mesmo assim, resta ternura, amizade e esperança podendo, a cada andança, mesmo em ranchos sem pão, aliviar o coração em sorriso de criança. Fala do esquecimento, do não atendimento a Jesus, sobre ele morrer para cumprir as profecias; os que fogem da luz o matam todos os dias.
Os presentes e papéis noéis, esperando um dia o ano inteiro enquanto a maioria sofre destinos cruéis; amor pesado a réis, mortos vivos andando e instituições desandando porque esqueceram Jesus. Precisando de mais luz no coração dos que mandam.
Por fim, os anjos digam amém para completar a prece do gaúcho que conhece as manhas que tigre tem. Não jogava vintém, mas rezava um te-deum campeiro, para que o fizesse uma boa viagem o enteado do carpinteiro.
Falando de Jesus em seu contexto e cultura campeira, Jayme Caetano Braun mostra o valor deste em um espaço marcado, com características particulares, também recebendo e vendo Jesus, se mesclando com seu momento, por razões históricas, culturais, sociais e religiosas, cabendo em sua forma. O natal se mostra aqui como data de definição cultural e uma maneira diferente de ser, mesclado com a cultura apresentada. O taura fala sobre suas maneiras, seu natal, a forma como lhe ocorre e o valor que dá. Expressão do natal enquanto social e político, mas também de sua complexidade e amplitude cultural.