Autor: Pedro Fagundes de Borba
O alagoano Graciliano Ramos alcançou uma profundidade humana em seus textos com poucos igualitários na literatura, entre eles Machado de Assis. Com seu estilo seco e grosso conseguiu reproduzir passagem do indivíduo brasileiro com seu jeito profundo, cada palavra remetendo a um duro e denso aspecto deste personagem, e da conduta dos similares na vida. Tal profundidade mostrou personagens que vagavam pela vida, a atravessavam, registravam o que viam e entendiam, a partir do que eram. Embora tenha dominado isto na primeira pessoa, sua obra mais famosa ficou em terceira, capaz também de mostrar sua visão, suas interpretações, no caso falo do romance “Vidas Secas”, com capítulos contos.
Narrando sobre a família de retirantes composta por Fabiano, Sinhá Vitória, dois filhos e a cadela Baleia, embora não tenham voz direta na obra, muito porque têm limitações linguísticas que os limitam as falas e os pensamentos, o autor segue muito de perto cada um destes membros, dando o devido destaque para cada, mostrando cada e fazendo a vida profunda de cada.
Para ver bem isto, cabe descrever alguns capítulos da obra, colocando as situações e o foco em cada personagem. No primeiro Capítulo, estão vagando pelo sertão nordestino em tempos secos, procurando algum lugar para trabalhar. Além dos já citados membros, havia também um papagaio que fora morto e comido, por causa da fome e por Sinhá Vitória o ver como inútil, já que não falava. Além da chegada numa terra, aparentemente sem dono, o capítulo também é marcante pela cena em que um dos filhos para, sem motivação para andar e Fabiano faz com que volte, incluindo socos e chutes no processo, até que chegam ao local.
Ao longo do livro, outros momentos da família trabalhando naquela terra, que tinha um proprietário, vão sendo descritos, sempre enfatizando a condição dos personagens, bem como suas interpretações, como reagem lá, o que lhes acontece, como vão passando. Destacam-se momentos como a prisão de Fabiano por não conseguir se explicar sobre o incidente com o soldado amarelo, que se encontrarão novamente depois, a noite na fogueira e como o momento vai passando, Sinhá Vitória querendo cama com lastros, o filho mais velho querendo respostas e o mais novo ser igual Fabiano. O momento mais famoso do livro é quando Fabiano tem de matar a cadela Baleia, por esta estar com princípio de hidrofobia, ela querendo preás gordos e enormes. Ao final do livro, a seca retornando, tem de sair de lá, procurar outro local.
O nome de Vidas Secas é a representação perfeita do livro e do que o autor coloca dentro, passando por ser a vida dos personagens, a síntese da situação e condição, a representação complexa e simplesmente o que ali se passa, o que é visto. Ao fazer estas formas de concepção, o autor consegue transpor uma realidade imediata rompendo com simplismos ou com representações pequenas, mas colocando os personagens como sujeitos formados de uma maneira agindo da forma que esta permite, querendo melhorar a vida dentro daquilo, ou seja, do que conhecem e veem possibilidade de melhorar. Fala sobre o ser humano em profundo, como vivendo, se vendo, querendo seu melhor, muitas vezes não conseguindo, e assim se percebendo.