Autor: Pedro Fagundes de Borba
Fazer um registro cultural precisa ir fundo a uma questão, pegar os vários aspectos que formam a cultura que se registra, associado com a vida nela presente, o que há de real, de profundo para os que vivem naquela cultura. Heterogênea, a cultura gauchesca teve nuanças, formas de ver e uma ligação com os viventes do Rio Grande do Sul, que a viveram, enriqueceram ou modificaram, sempre focados na imagem do taura bagual. Uma figura importante deste registro, o historiador, antropólogo e folclorista Nico Fagundes (Antônio Augusto Fagundes), teve, artisticamente falando, um alcance alto destas características ao escrever a letra de “Canto Alegretense”.
Usando a cidade de Alegrete como local para falar de costumes, belezas e características gaúchas, vai falando da beleza do local, principalmente alguns pontos de natureza, como a flor de tuna, o camoatim, mel campeiro e o sol como brasa que arde mergulhado no rio Ibirapuitã. Também associa aos aspectos o caminho para Alegrete, o viajante cruzará com ginete e ouvirá toque de gaita e violão.
Por fim, tendo falado da cidade, vê a si, pensa em como é e o que fará, na hora derradeira que mereça ao ver o sol alegretense entardecer, irá virar a cabeça, como os potros, para os pagos no momento de morrer. E nos olhos levar o encantamento da terra que amou com devoção, desde guri. Termina afirmando que cada verso que compõe é um pagamento, de dívida de amor e gratidão, a relação que tem com o que descreveu.
Usando o mergulho profundo nos sentimentos, por isso em certo sentido os exagerando, similar a poetas românticos, Nico Fagundes fala sobre estes, suas composições, mostra algumas partes do que os compõe, o que são, usando o exagero como forma de mostrá-los, explicitar suas complexidades e características. Fala sobre características do camperismo alegretense, algumas de suas características, o jeito como se relacionam e se formam com a vida. Os aspectos culturais, associados com a realidade fluída e a vida prática existem, se mesclando com estas, formando a concepção do autor, a maneira como é e com isto se relaciona, como participa. A representação cultural viva, atenta a mudanças e concretudes.