Autor: Augusto Branco
João e Maria conviveram ainda crianças no campo, e levavam uma vida muito simples.
Moravam em casa construída de pau a pique com cobertura de sapé.
Dormiam em berço de madeira nativa, colchão confeccionado de saco de açúcar, cheio de palha de milho. Ali era o local para descansar o corpo, das brincadeiras coletivas realizadas com os irmãos de sangue do sítio de seu Zé.
Todas as obras realizadas no campo eram feitas pelos pais João e Maria, herança herdada dos avôs que concederam o nome para a prole prosseguir.
João e Maria também tiveram filhos e deram dez irmãos a João e Maria filhos para herança de João e Maria avôs poderem honrar a fama de família com maior número de prole do interior.
João e Maria ainda criança aprenderam, caçar, pescar, plantar, colher, dialogar, fantasiar, imaginar, observar, transformar, solidarizar-se, relacionar-se, sonhar..., enfim! Conviver livremente com a natureza.
No horizonte podiam ver as nuvens se formando, o sol se escondendo e o arco-íris surgindo para se banhar no riacho muito próximo de suas casas.
Essa vida, vivida, repassada de geração em geração, parecia parar o tempo sem malícia a dominar.
Mas, o tempo passava e adquiria malícias sussurrava o vento, que apressava o tempo e construía as malícias.
João e Maria filhos que receberam a vida simples no campo, herança herdada da geração João e Maria, agora já não tinham o mesmo espaço no campo.
Os filhos abandonaram o campo e seguiram para cidades, regiões diversas, municípios, estados, e até outros países, para reproduzir novas gerações e conquistar maiores espaços para prole multiplicar.
São em novos cenários que João e Maria constituem novas famílias. Mas, diminuiu o número de membros, berços de madeira nativa, colchão confeccionado com saco de açúcar cheio de palha de milho, e o local onde todos podiam colocar os corpos descansarem.
Afinal, seus novos filhos já não herdam o mesmo nome e nem prole muitos querem procriar.
As brincadeiras coletivas, agora somente em redes sociais do mundo virtual. As brincadeiras do sítio de seu Zé restaram somente lembranças, muitas vezes esquecidas a ponto de seu Zé ninguém conhecer por aqui, nesse mundo individualizado que acorrenta vossos pés.
As crianças e jovens de hoje, filhos de João e de Maria, agora muitos não aprendem caçar, pescar, plantar, colher, dialogar, fantasiar, imaginar, observar, transformar, solidarizar-se, relacionar-se, sonhar..., enfim! Conviver livremente com a natureza.
Esses em ordem crescente aprendem malícias como: Caçar violência via o uso de drogas, pescarem cartões bancários para roubarem, plantarem desordem em escolas, colher discórdias familiares, dialogar com máquinas e cada vez menos diretamente com seres humanos, fantasiar riquezas fáceis, imaginar um mundo sem trabalho, observar passivamente a vida sem preocupar com o amanhã, transformar pessoas em escravos para usar na produção de riquezas, solidarizar-se somente com a destruição da natureza, relacionar-se com guerras para dominar economias concentrando poder e mais riquezas. Sonhar usando sonhos de terceiros sem criar quase nada... Enfim se transformar em prisioneiro de seus atos.
Porém, diante de tamanhas malícias, existem legados deixados e preservado por muitos João e Maria. Como: A observação e unidade, análise e planejamento, conscientização e organização, solidariedade e paz, redistribuição das riquezas...
Esses legados estão interligados diretamente com a palavra mágica que todos chamam de EDUCAÇÃO.
Basta todas as crianças, jovens, homens e mulheres criarem meios para construírem um fim, que sociabilize todas as ações educativas desde a base da sociedade, e assim ser implantado a EDUCAÇÃO transformadora em todas as famílias de João e Maria.
- Luis Ribeiro -
Luis Pinto Ribeiro é autor do livro O Cotidiano Humano, que é publicado no endereço;
http://macacopensador.clubedeautores.com.br/book/133265--O_Cotidiano_Humano