COLUNISTAS

Autor: Pedro Fagundes de Borba

A vida e as alegrias

20/10/2019 - Várzea Paulista - SP

      O conto de João Guimarães Rosa " As margens da alegria", integrante da coletânea " Primeiras estórias", mostra a história do menino que sentiu alegria e dor, nas mesmas coisas, em momentos diferentes. Sendo autor de uma infinita sensibilidade e compreensão, absurdamente transcrita para sua literatura absolutamente poderosa e incrível, Rosa consegue contar a história de forma completa, sem perda de detalhes e com uma imensa sensibilidade para todos os pontos que a compõem. 

      O menino protagonista foi, com os tios, de avião, para o sítio destes na margem da cidade grande. Era alegre por causa disto. Cada lugar que passava lhe alegrava. A casa também lhe fazia isto, tudo era lindo e alegre. Viu, no jardim, um peru pelo qual se encantou. Saíram a passear de jipe.

     Após mais alguns momentos extremamente alegres, incluindo um almoço, volta ao lugar onde estava o peru e ali não o encontra, apenas algumas penas.  Começa então a ficar triste, recebendo um miligrama da morte. Começa a reparar no que estava ao seu redor e ver que era ruim, como algumas destruições de mata. Cerrou-se, grave e cansado, renunciando à curiosidade. Reparou em uma árvore que caía. 

     Teve pensamentos, ainda na forma indefinida destes efeitos, e após o jantar voltou para o terreirinho. O peru estava lá. Mas não era aquele. Este era muito menor. O consolou um pouco, ainda assim. Até o dia em que a ave andou até a beira da mata, estava lá a cabeça degolada do outro. Algo que o menino não entendia: o peru foi até lá movido por um ódio, bicava a cabeça no chão. Quando um vagalume passou, viu sua luz e se admirou. Era lindo. Estava, mais uma vez, sentindo a alegria. 

      A sensibilidade Roseana se sustenta em uma visão poética muito forte, abarcando o que compõe a vida, de materialidades, metafísicas, contradições, individualidades, filosofias, ambientes, relações sociais e travessias. O menino passou por uma grande contradição da alegria viva em contraponto com a morte, algo muito paradoxal na história, mas que é completo, pois a vida possui estes momentos. E unindo seus aspectos, sempre aparece como complexa e viva.