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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Mundana:formação

1/9/2019 - Várzea Paulista - SP

   Impressionando por ter um estilo fluido, poético e denso, muito completo, Marcel Proust se tornou uma figura central da literatura mundial. Sua habilidade descritiva, sua visão e sua sensibilidade foram capazes de fazer representações profundas e complexas daquilo que ocorria, usando, normalmente, personagens oriundos de classes abastadas para mostrar isto. Seu estilo serve para interpretar e pensar aquilo que fala, tendo sido relevante não apenas para literatos, como também para pensadores e diversos outros membros da intelectualidade. Aspecto muito presente em sua obra, a mundanidade da vida, sobretudo com quem tem dinheiro, se forma de maneira sutil, sempre infectando aquele que atinge, o sugando e lhe garantindo continuidade. 

    De forma bastante direta, Proust explorou este tema no conto "Violante ou a mundanidade". O conto, em superfície, conta a história de Violante, que irá se tornar uma mundana. Sua mãe era a viscondessa da Estíria, mulher generosa. Seu pai, visconde, era extremamente alerta. Quando era criança, morreram. Foi criada na fazenda em que moravam, longe do mundo. Após a morte, passou a ser criada por Augustin. Solitária e de infinita alegria. 

    Sua sensualidade surge quando Honoré de Tranvers surge. Além de Augustin, uma tia, e algumas crianças, não via mais ninguém. Após algum tempo em um banco em que transariam, Honoré sente que a tia da menina está chegando, sai e não acontece. Por longo período, sente este amor, em verdade. Após alguns eventos, descobre que ele não virá mais. Sofre por um tempo, havia conhecido o amor. Por meses, vive uma obsessão por Laurence, jovem inglês. Mundano, após aproveitá-la, foi embora. Violante então vai para os ambientes mundanos, aprender seus segredos. Disse que lá viveria um tempo e então voltaria para a Estíria. 

    No início desta vida, foi acolhida por todos. Alguns imploraram sua proteção. Todos para ela fizeram oferecimentos; a tudo negou de início. Após algum tempo lá, sentindo, Augustin foi visitá-la. Afirmando que a moça já havia conquistado certa superioridade, podia voltar para a Estíria. Violante disse que havia acabado de conquistá-la. Queria aproveitá-la por alguns meses. Ia se casar com o duque da Boêmia, por isso não estava voltando. Ainda chorou por ter sua carne murchada para sempre. Se, no começo, da sua estada lá, era uma obra de arte, passou a ser um objeto de luxo. Com o tempo, foi se imergindo dentro da sociedade, afirmando, para Augustin, que se entediava. Um dia, ao visitá-la, afirmou que ela se entediava porque não estava se dedicando ao que amava. Ela o contesta e segue sua vida. Após algumas questões relacionadas ao choque de sua nova vida com a antiga, continuava lá. Ás vezes, tentava encontrar, na floresta, a fonte natural das verdadeiras felicidades. Mas passavam vestidos estonteantes. Os prazeres da elegância corrompiam sua alegria solitária. Não mais voltou para a Estíria. 

   Violante era uma alma destinada a se tornar mundana. Se, em seu começo de vida parecia repugná-la e ser outra coisa, não possuía suficiente força para escapar. Em seu íntimo, em verdade, estava desde sempre se formando mundana, tendo as devidas experiências a compor um passado do qual se recordaria, consciente e sentimentalmente, quando vivesse na mundanidade, sem se dedicar ao que acreditava; ao que a construía; sua composição humana; principalmente sua metafísica. Quando entrou para a sociedade mundana, dizendo que iria simplesmente descobrir seus modos para saber como dominá-los estava, em fato, se tornando um deles. E se tornou cada vez mais, se entediando, querendo sair e sentindo os prazeres mundanos, os mais manipuladores. Morreu assim. 

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