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Augusto Branco

Autor: Augusto Branco

LUÍS PINTO RIBEIRO: O Cotidiano Humano

18/4/2012 - Várzea Paulista - SP

Você tem uma trajetória de vida muito rica, morou em vários Estados brasileiros e conhece a realidade do campo, e da cidade, e apesar da origem humilde e do trabalho rústico, você é um intelectual preocupado com as questões sociais de um modo bem amplo. Como se deu a formação do autor Luís Ribeiro? Quando trabalhava no campo eu  ordenhava as vacas quatro horas da manhã, e às sete horas da manhã eu estava na escola dando aula; à tarde eu trabalhava na pequena mercearia da família e durante a noite eu percorria 56 km para fazer faculdade. 

Em muitos aspectos, pode-se dizer que você é o exemplo concreto da transformação do indivíduo na sociedade através da educação e, especialmente, uma exemplificação da luta e dos sonhos dos trabalhadores brasileiros... Bom, eu sempre sonhei em ter três coisas na vida; a) Educação; b) Ter um pedaço de terra; c) Construir uma família. Graças à luta de toda família, de meus três filhos dois já concluíram o ensino médio; minha esposa concluiu o ensino fundamental recentemente; e nosso caçula Alessandro, que está na quarta série, executa comandos no computador melhor de que seus pais. Estudar se tornou um projeto coletivo de nossa família, todos estão empenhados. O Gustavo com 17 anos está entrando no curso superior de Tecnologia em Construção de Edifícios do IFMT (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso), minha esposa fará o exame supletivo para eliminar a área de conhecimento de ciência da natureza que faltou para concluir o ensino médio. No meio do ano, Vlademir prestará vestibular. Quanto a ter um pedaço de terra. Perdemos a posse da terra do meio rural, mas nos últimos anos conseguimos comprar dois terrenos na cidade e construir um casebre. Estamos morando nele.  Portanto, os sonhos são objetivos coletivos que persistirão por toda vida de nossa família e, sim, penso que nossa história de luta é semelhante a de muitos brasileiros. 

No livro Cotidiano Humano é retratado exatamente a forma como a educação é um processo permanente na vida das pessoas – considerando tua própria experiência de vida, o livro é uma autobiografia? O Cotidiano Humano é uma história do dia a dia. Apesar de iniciar com reflexões filosóficas, procurei descrever fatos até bastante banais que acontecem em nossas vidas. Há alguns trechos que podem ser considerados folclóricos, mas também são fatos ocorridos no cotidiano dos personagens e, sim, também é uma autobiografia. 

No primeiro capítulo do livro chama a atenção uma abordagem bastante sociológica, analisando a concepção de educação e organização humana. À primeira vista, é um livro de temática bastante acadêmica... Sim, eu tive a preocupação de descrever entendimentos teóricos de como visualizamos o mundo através da “Concepção de educação e organização humana”. Isto é, a construção do diálogo baseado na reflexão de fatos como existência dos nativos, nossa existência civilizada, natureza, trabalho, educação e cultura. 

E é interessante que apesar do academicismo, a narrativa não perde o tom de interior, de coisa simples da gente do campo. De fato, e isto acontece porque revelo o cotidiano da família de meus pais e de minha irmã adotiva, sem deixar de expor como ocorriam o processo de educação e as relações com a natureza, trabalho e cultura. A diversidade cultural e readaptações humanas do terceiro capítulo do livro colocam em evidência as mudanças do ambiente de vida das duas famílias, as mudanças nas relações sociais, a reestruturação da propriedade, o começo da vida escolar das crianças e as primeiras separações ocorridas nas famílias. 

Você morou num assentamento de reforma agrária de um projeto do INCRA em parceria com o MST e no livro há uma importante passagem sobre este período de tua vida. De que modo você aborda esta temática? “Caminhos percorridos com os sem terras”, citado no Quarto capítulo procura situar o contexto histórico de fundação do movimento.  Posteriormente relatamos os fatos ocorridos como: ocupação de terra, criação e organização de alguns assentamentos de 1984 até 2008. Por último o quinto capítulo, “O antagônico as rupturas e a geração do novo”, relata em que circunstâncias ocorreram o curso Técnico em Administração de Cooperativas. Por fim, revela o processo trabalhista movido contra a associação ligada ao MST.  Acrescenta ainda a saída do partido dos trabalhadores e o declínio da família no assentamento Margarida Alves, que culminou com a mudança do campo para cidade. 

Há uma idéia permeando tua obra que é a da reorganização social para formação de um mundo mais justo e mais igualitário. Em qual passo você observa que o mundo está agora neste caminho? O que você considera essencial para a formação desta nova organização social que você vislumbra? O mundo viveu um longo período em guerras. A última grande guerra mundial ocorreu de 1939 até 1945. A queda do muro de Berlim em novembro de 1989 representou o fim do período chamado de guerra fria. Os Países do bloco Socialista e bloco Capitalista até então se preparavam para novo confronto. Era a União Soviética de um lado representando a ideologia Socialista e buscando estabelecer uma nova ordem econômica, social e política para o mundo, e de outro lado o sistema Capitalista representado pelos Estados Unidos tentando manter e expandir o imperialismo dominante. Este cenário chegou ao fim com a queda do muro de Berlim. Vejo que a partir deste momento se abriu um novo caminho. Mas atualmente a democratização do Estado.

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