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Augusto Branco

Autor: Augusto Branco

LEONARDO ALVES DE LIMA: O Vale

24/3/2012 - Várzea Paulista - SP

Em tempos em que vampiros e magos são sinônimos de sucesso no universo da ficção, o que é O Vale? Busquei um tipo de composição que pudesse comunicar o ‘fantástico’ que tanto agrada e encanta os leitores, mas que também fizesse sentido no mundo real. O Vale reúne histórias que fazem parte da tradição oral de comunidades de todo o Brasil e não apenas daquelas que estão no vale do Rio Paraíba do Sul. Portanto o leitor, ao mesmo tempo em que é convidado a imaginar e criar cada cenário, pode aplicar o enredo ao cotidiano, refletindo, conversando ou mesmo se divertindo com cada um dos nove contos que compõem o livro. 

Valorizar a cultura nacional parece ser algo importante para você. É possível que o folclore e os mitos do Brasil se transformem em Best-sellers globais? Acredito que o surgimento das novas ferramentas digitais, principalmente o fim do poder absoluto das grandes editoras democratizarão nossas histórias e as tornarão globais. No passado nós, como brasileiros, sofremos de uma espécie de síndrome de auto-piedade, como se não tivéssemos o que comunicar. Hoje o Brasil está cada vez mais em evidência e podemos dar e receber conhecimento em um mundo cada vez mais sem fronteiras. 

Nesse “dar e receber” qual o impacto de seus contos em seus leitores? Tenho recebido relatos de leitores de várias partes do Brasil que ouviram as histórias antes e que ao lê-las hoje se identificaram com os contos e puderam entender um pouco mais de si mesmos. Nossas tradições fazem parte de quem somos entendê-las significa ter um olhar no retrovisor e ao mesmo tempo dar um passo adiante. Esse é o papel fundamental da literatura, ou seja, oferecer uma interpretação literária do mundo. 

Você chegou a viver algumas das situações descritas no livro? O Vale é composto por histórias que ouvi na região onde eu moro, mas que também conhecidas em todo o Brasil. O que eu fiz foi interpretá-las, por isso há um ‘quê’ de bizarro nelas. 

Muitos dos contos do livro estão ambientados no Rio de Janeiro. O Rio, talvez, seja uma das cidades mais bem retratadas na literatura brasileira, pelos mais diversos prismas e matizes. Qual é o Rio de Janeiro apresentado em ‘O Vale’? É o Rio de quem faz, do carioca que nasceu aqui ou foi recebido se tornando a verdadeira maravilha da cidade. Algo que o cartão postal não mostra. É o subúrbio em seus mistérios ou o interior brejeiro de gente aguerrida. 

Em seu livro há a figura do herói, jovem e inconformado. Há o amadurecido e senhor de si que se coloca frente a frente com seus próprios medos e paixões. Há a mulher apaixonada e devassa e a mãe cujo amor sacrificial matriarquiza e sacriliza. Há o amor impossível como também a inveja desmedida e imperceptível. Em contos aparentemente heterogêneos, qual a mensagem principal que permeia este livro? Cada um dos nove contos passa por uma fase da vida e nos coloca em rota de colisão com nossas próprias escolhas. O Vale é isso, uma jornada um lugar onde o ‘perder-se’ é o primeiro passo para o ‘encontrar-se’, e acredite, já estive nessa posição.

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