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Augusto Branco

Autor: Augusto Branco

L.L. SANTOS: Bullying - matando aula

18/3/2012 - Várzea Paulista - SP

 

A atmosfera de seus livros é um tanto macabra, parece não haver espaço para final feliz em tuas obras... É verdade que a grande maioria de meus textos tem um final triste, mas isso é porque tudo que eu escrevo tem seus alicerces baseados na realidade. Claro que a maioria das pessoas que já conheceram meus trabalhos sabem que raramente o final será feliz. Porém, mesmo com todo o horror psicológico que existe nas entrelinhas, tem algo mais que faz as pessoas seguirem adiante, e isto deveria fazer a gente se perguntar: por que as pessoas lêem isso?... 

BULLYING é violento em todos os sentidos. A leitura deste tipo de livro não poderia ser um incentivo à violência? Primeiramente é preciso notar que, antes de tudo, a ficção é baseada na realidade. Veja a tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro. Aquilo não é ficção, aquilo foi real. E fatos semelhantes aconteceram em outros lugares do mundo. E porque vou isentar-me de escrever sobre isso? Stephen King proibiu novas reimpressões de seu romance “Fúria”, por este ter sido encontrado nos armários de diversos psicopatas que resolveram dar tiroteios em escolas. E apesar da decisão do autor, este tipo de situação continuou acontecendo. Tem aquele “Precisamos falar sobre o Kevin”, de Lionel Shriver. E olha só, continua sendo publicado. Se fosse por isso, Lolita do Nabokov teria de ser retirado do mercado por ser um manual de pedofilia. 

Em BULLYING, há desdobramentos bastante macabros durante os momentos mais fatídicos. Acredita que as pessoas podem mesmo se tornarem perversas em situações extremas? Sim. E esta é, talvez, a principal tônica do livro. No decorrer dos acontecimentos, os estudantes mostram-se tão macabros quanto o estranho que os colocara na mais desesperada situação de suas existências. Ódio, medo, amor, preconceito e racismo ganham a cena: imperam as diferenças sociais entre alunos que fariam de tudo para saírem ilesos, inclusive matar seus colegas 

Ainda que seja ficção, muito do que um autor escreve tem relação com aquilo que ele vive e observa. A tua experiência pessoal tem alguma vivência semelhante com aquilo que você descreve em BULLYNG e em outros livros de tua autoria? Ora, estamos cercados de bullying o tempo todo. A grande diferença é o fato de que agora essa palavra se tornou comum. Quando criança, eu sofria bullying, mas estou vivo e não busquei vingança. As outras crianças gozavam da minha cara, levei cascudos e por aí vai, mas ando de cabeça erguida. A educação familiar e a escolar no Brasil estão no fundo do abismo. Mesmo hoje eu sofro bullying, com pessoas pegando no meu pé, me falando asneiras e agressões verbais que infelizmente, não tem jeito de cura. Toda a violência moral que existe em de redor, me afetou de certa forma. Eu não queria escrever este tipo de obra. Até hoje digo que não tenho interesse por este gênero de ficação. Mas sempre acabo produzindo do mesmo jeito... é bullying para tudo quanto é lado... As pessoas estão acomodadas, com seu senso comum na lixeira. Por que um livro pode ser considerado como uma obra maldita? Algo que pode incentivar a violência? Olhem o site Mundo Canibal. Eles fazem de tudo. E tem apoio. Acho que de alguma maneira, eles tenham também sofrido algum tipo de bullying. Mas olha só: os caras fazem um ótimo trabalho e não se escondem no segmento de "publicação de seu trabalho". O bullying nos cerca desde a infãncia, continua na adolescência e vai se infiltrando cada vez mais na vida jovem e adulta até se estagnar na velhice... exagero?! De jeito nenhum... basta olhar para árias direções... 

Você gosta de explorar a temática sexual em todos os seus livros. Não importa se é na fantasia de PERSÉFFONE, nas aulas de BULLYING ou no Rio de Janeiro de SONHOS DE UMA GERAÇÃO, onde existe uma quantidade brutal e explícita de referências sexuais...  Sim, sempre exploro bastante a temática sexual, e por que? Ora, as pessoas gostam de sexo. O sexo move o mundo. As pessoas não gostam de falar abertamente sobre o assunto, mas se o mesmo estiver em algum livro, isso muda. Além disso, dá para explorar a mente de diversos personagens com imensa facilidade quando colocamos alguma conotação sexual em pauta. E o interessante é que pode também ser perturbador, quando um personagem mais velho está envolvido com uma garotinha. Mas é ficção. Uma fantasia literária. Dependendo de como o assunto for redigido, podemos ver algo surpreendente... 

Por trás de todos os acontecimentos terríveis descritos em teus livros, que tipo de mensagem existe para o leitor? Há, certamente, algo de mais complexo envolvendo tanta violência e terror...  Em BULLYING - MATANDO AULA, penso que a principal mensagem é uma espécie de aviso: a violência pode estar em qualquer lugar, com qualquer pessoa – e o sofrimento pode transformar qualquer um em um psicopata, pois as pessoas têm um limite. Quando este limite é transgredido, não dá para saber qual será a reação. É como o marido que vive espancando a esposa: lá fora ele é só sorrisos, mas dentro de casa é um demônio. Então um dia a paciência dela vai para o espaço. Ela pode ir a delegacia e fazer queixa. Ele, completamente tomado pelo desespero de não querer ir parar atrás das grades, resolve assassinar a mulher, e depois até se suicidar, assim como a esposa talvez jamais venha a fazer, mas ela vai acabar por ficar enterrada em um mundo depressivo sem volta, sem apoio de familiares ou amigos... A única mensagem do livro é essa: tem de se fazer algo antes que seja tarde, pois depois do acontecido, apenas vira lembrança na mídia... O horror fora da ficção, bem em frente de nossas casas, é infinitamente mais macabro, por isso precisamos fazer o possível para que ocorram mudanças na nossa já tão abalada sociedade...

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